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O Império Contra-ataca. Primeiro o fim do mundo figurativo. Agora o fim do mundo literal. Não bem. Mas quase. Só um bocadinho mais a Norte.

Sunday, May 11, 2008

FIM!


Eu não disse que o nome do blog fazia todo o sentido?

Então até uma próxima. (duvido...)

Obrigadinhos!

Mi Buenos Aires Querido, cuando yo te vuelva a ver…



Buenos Aires apanhou-me de surpresa. Do turbilhão que tinham sido os meus últimos meses, da ansiedade do Contacto, da espera sem destino, dos meses passados na Argélia… a minha cabeça ainda se estava a tentar organizar no meio de tanta novidade e informação. Buenos Aires foi um novo desafio que abracei com entusiasmo, decidido a guardar o melhor da aventura anterior e decidido não a esquecer o pior, mas a guardá-lo como lição de vida. Mas a verdade é que de um país extremista Árabe onde impera a lei da selva, passava para um país que desconhecia e do qual pouco ou nada sabia. Maradona, Che Guevara, Evita Perón, Carlos Gardel…. nada. Sabia que era um país da América latina com tudo o que isso tem também de aventura.

Sou um bocado de extremos. E as primeiras impressões ficam vincadas em mim. Buenos Aires conquistou-me em 40 minutos. Foi o tempo que demorou a viagem do Aeroporto a casa do André. Pelo meio da confusão, ruas com gente por todo o lado. Trânsito que nunca mais acaba… o caos completo. Nem sequer passei num monumento nem nada de particularmente interessante. E no entanto, saí do táxi e pensei para mim mesmo “Vou gostar disto.”. Talvez tenha sido intuição. Talvez tenha sido do taxista, o primeiro de muitos com quem fui travando interessantes conversas. Talvez tenha sido do ar que respirei. Ou talvez fosse o efeito das mais de 24 horas de viagem. Não sei do que foi. Mas sei que foi assim.

Já aqui o disse. Buenos Aires não é uma cidade que se fotografe. Não é uma cidade que se conhece de roteiros em roteiro, dentro de museus, nas obras de arte. Não tem sequer grandes monumentos. Buenos Aires é uma cidade que se sente. É preciso sentir-lhe o pulso. Perceber a sua gente. Escutar a sua confusão. Compreender-lhe a vida. Respirar-lhe os cheiros. E então, descobrir o seu charme. Aquelas ruas, aquele “lio”, aquele frenesim em poucos dias tomou conta de mim. Foi como estar em casa. Aqueles argentinos, cheios de piada, sempre simpáticos e de sorriso rasgado. Gente de energia muito positiva. Aquela pronúncia que faz do “ll” um “x” ou do “y” um “j”. Que assim que sabem que somos portugueses falam disto e mais daquilo. Sabem tudo. Aquela americanização, com lojas abertas 24h por dia, movimento a qualquer hora em qualquer lugar em qualquer dia da semana. Os parques aqui e além. As árvores em todas as ruas. O design em todo o lado. Nos restaurantes, nas lojas, tudo. A carne. O tango… a VIDA.

Buenos Aires é uma senhora de 50 anos que em crise de meia-idade se pinta de lábios vermelhos bem carregados. Palavra de Mariazinha de Cinfães e bem acertada.

Buenos Aires apanhou-me de surpresa. E ainda bem.

E depois, ou antes. Ou ao mesmo tempo. Há os amigos. Aqueles que me fizeram viver a cidade no seu melhor. Sem ordens, André, Sónia, Tânia, Maria, Mário, Mariana, Tomaz, Ana, Pedro, Frederico, Mónica… e todos os outros que foram passando por lá… todos os que me foram preenchendo a vida argentina. Um grupo instantâneo onde encaixei e encontrei o meu lugar de modo quase automático. Guardo-os a todos no coração com saudade e carinho.

Os pequenos almoços no Puerto del Cármen, as empanadas do Romário, o Bife Chorizo do desnível, as noites no Ópera Bay, os fins de semana repartidos entre S Telmo, Recoleta e Palermo, os fins de tarde na Freddo, o Tango em cada esquina… as reuniões em casa da Tânia, da Sónia, em minha casa… os fins de tarde de piscina em casa do André… as coisas tão simples… tão banais… tão marcantes…
Já passou um ano desde que aterrei em Portugal. Um ano. Inteirinho. Digo que o tempo lá passou rápido. Pois cá não passou mais devagar. Passou foi com Buenos Aires na cabeça todos, mas rigorosamente todos os dias.

Depois termina-se a odisseia com a viagem que vos fui descrevendo ao longo deste ano. E enche-se o peito. Volta-se a Buenos Aires e cai-se na real. E percebe-se que vai a acabar. Que está a acabar. Preciso de mais um dia. Só mais um dia! Txiiii nunca cheguei a ir ver a Livraria Ateneo… e o Tigre? E nunca fui à pampa! E o jogo do Boca? Ou do River? Mas também… se visse tudo que justificação teria para voltar?

Vira-se as costas a Buenos Aires. Volta-se a Portugal. Volto sem perceber se estava a perder alguma coisa ou se estava a trazer algo mais comigo. Acho que é a segunda hipótese que impera. Tem de ser.

Diz o poeta que nunca se deve voltar onde um dia já se foi feliz. Discordo. Totalmente. De tal maneira que conto os dias para lá voltar. Não sei quando será. Mas vai ser.

Buenos Aires apanhou-me de surpresa. Quem sabe um dia não lhe faço o mesmo?

Fica por aqui este blog. Finalmente, diria eu. Acaba-se o peso na consciência de o ter deixado ao abandono. Um ano e um mês depois da chegada a Portugal, fecha-se aqui a última página de um livro. Daqueles livros que nos marcam e nunca ganham pó. Porque de vez em quando voltamos a ir à prateleira para lhe pegar e o ler de ponta a ponta. Ou só para relembrar aquela passagem que já sabemos de cor.

Ché!



























































































P.S. (o último) – Começou há pouco um novo projecto. Um projecto de vida. A dois e há muito desejado! Welcome to: The Warehouse.