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O Império Contra-ataca. Primeiro o fim do mundo figurativo. Agora o fim do mundo literal. Não bem. Mas quase. Só um bocadinho mais a Norte.

Thursday, April 19, 2007

Dia 2 ::: 09-03-2007 ::: Ushuaia

Na Terra do Fogo podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal.


São 8 da manhã quando acordo. Estou atrasado. Que coisa tão rara e estranha. Tenho 30 minutos para estar à porta do hostel. Não há problema.
O programa do dia estava definido desde o dia anterior. O grupo foi aumentando no pequeno-almoço. Para a parte da manhã, a da ida ao Parque Nacional da Tierra del Fuego estavam: Eu, Esteban, da Costa Rica, Corinna e Flo da Alemanha, Rosa, a espanholita basca, Taki o japonês, o Homem do Yes e Sofia, uma mexicana.

Começa bem o passeio.

Mulher do Parque – “Nacionalidade?”
Corinna – “Alemã”
M.P. – “20 pesos”
M.P. – “Nacionalidade?”
Flo – “Alemã”
M.P. – “20 pesos”
M.P. – “Nacionalidade?”
Taki – “Yes!”
Eu – “Japonês.”
M.P. – “20 pesos”
Taki – “Yes!”
M.P. – “Nacionalidade?”
Eu – “Portuguesa”
M.P. – “6 pesos.”

E pronto. O resto pagou 30. Não percebi porque é que paguei 6. Mas também não fiz questão de perguntar! Ainda que involuntário, poder-se-á considerar este o segundo momento tuga?

Às 9h00 começamos a caminhada. A partida faz-se na Baía Ensenada, uma enorme baía onde as aguas calmas do Canal Beagle mais uma vez nos fazem pensar que estamos perante um lago e não um braço de mistura atlântica e pacífica. Ali ao lado, uma casota dos Correios Argentinos permite-nos carimbar o passaporte com um carimbo simbólico do Fim do Mundo.


Logo ao lado começa o caminho. Pelo meio de um bosque cerrado, daqueles de contos de fadas. Todo ele verde e húmido. A lama é companhia constante. Às vezes até aos joelhos. O mar do canal vai-nos acompanhando. Parado, literalmente, vai-se revelando tal é a facilidade com que se vê o fundo. Eu não sei se concordam. Mas para mim logo a seguir a um bosque estar o mar é coisa que não combina. Por isso é que o lugar é tão estranho e tão lindo. Do outro lado, o Chile acompanha o caminho.

"Parado, literalmente."

"Vai-se revelando tal é a facilidade com que se vê o fundo"

O bosque e o mar lado a lado.

"A lama é companhia constante."

"Às vezes até aos joelhos."
Só aconteceu a um. A quem havia de ser?

Estamos juntos e sozinhos ao mesmo tempo. O ruído do silêncio chega a assustar. Algumas partes mais difíceis do caminho lembram-me do esforço feito no dia anterior. As pernas dizem-me “Estás a ver palhaço?”

Pára para foto, pára para ver, pára para sentir. À nossa volta, a Natureza trata de nos mostrar a todo o momento como somos básicos. Há tanto no mundo e nós contentes com tão pouco.



Algumas árvores têm uma espécie de cancro. Não as mata. Pelo contrário. É uma resposta da árvore a um fungo que cresce nos seus troncos. Fungo esse que servia de alimento aos índios que anos antes habitaram estes lugares.

O cancro das árvores. Em baixo à esquerda, a bola amarela é o fungo.

A penúltima parte do caminho é feita em esforço. Subidas íngremes, troncos caídos e muita lama à mistura. A respiração está descompassada e o corpo tem reacções estranhas. Pela primeira vez, sinto calor e frio ao mesmo tempo. O corpo está suado do esforço e a parte da frente do nosso corpo ferve. Mas pelas costas, um vento cola-nos a t-shirt molhada ao corpo e deixa-nos gelados até aos ossos.

A última parte da caminhada é feita mais facilmente. Uma estrada de terra batida que nos levará até um parque de campismo onde nos irão buscar. Os últimos metros são feitos na companhia de inúmeras lebres que saltam por todo o lado. Saltam todas menos uma. Esta está na boca de uma raposa que se cruza connosco tranquilamente como se não fosse nada com ela. Não foge nem mostra tenções de o fazer. É estranho este à-vontade dos animais aqui.

A raposa (Zorro em Castellano) e a lebre paradinha.

O parque de campismo é de sonho. Com as tendas montadas junto ao canal, a vista é incrível. Só gostava de saber como é acordar, abrir a tenda e ter esta imagem como primeira vista da manhã. Churrascos espalham-se por todo o lado. E a sensação que dá é que quem está ali está longe do mundo. Mas também não sente falta.

No mp3: Street Spirit (Fade Out) – Radiohead

Se o Darwin andou aqui eu também quero!

São 15h30. Já sem o Taki (continuou no parque) e sem a Sofia (ficou algures para trás no meio do passeio da manhã para apreciar o cenário sozinha), entramos num barco que nos levaria pelo Canal Beagle (que deve o nome ao nome do barco que levou a expedição de Darwin pelas suas águas) a ver um farol, uma ilha com uns pássaros tipo patos, outra com leões marinhos e uma baía onde estão os pinguins.
Os animais não foram nada de fantástico. Leões marinhos são leões marinhos e os pinguins não eram dos mais bonitos. Além de que terminada a época de reprodução piram-se para o Pólo Sul e por isso já não eram muitos.

É mentira! Eu estive foi no Oceanário de Lisboa!

Ena! Tanta freira junta!!

O tal farol.

Mas navegar naquele canal é uma coisa incrível. A imensidão é uma coisa impressionante. Do lado direito a Argentina. Do lado esquerdo o Chile. No meio, um braço de água separa as terras e leva-nos numa calma que quase nos esquecemos que estamos sobre água. Olhar a 360 graus é uma experiência engraçada. À nossa volta, água, ar, montanhas, neve... nada. E tudo ao mesmo tempo. É esmagador. Os 4 elementos unem-se ali numa cumplicidade tal que forçosamente nos sentimos como intrusos. Ali nunca o homem chegou. Ou pelo menos não se nota. O vento gelado que nos abraça contrasta com o quanto aquele cenário nos aquece.

"A imensidão é uma coisa impressionante."

Ar, terra, água e fogo.

É capaz de estar frescote...

Pelo meio... vejo Jesus. Ou então era apenas um pato que caminhava sobre a água enquanto batia as asas para ganhar maior velocidade para voar. Não sei bem.

Milagre!! MILAGRE!!!

No mp3: Galapogos – Smashing Pumpkins

O jantar foi óptimo. O menu é outra conversa.

À noite, jantar no hostel. Com todo o grupo novamente reunido. A Sofia reapareceu e o Taki também se juntou. Se calhar não queria. Mas quando lhe perguntámos se queria jantar connosco disse... “Yes”. E por essa altura já sabiamos que um “Yes” do Taki vale o que vale.
Ambiente divertido, vamos falando dos momentos altos do dia. As melhores fotos, vistas, piadas... tudo. A ementa... Massa com salsichas e salada com atum. Pronto está bem então. Viola à mistura e umas cervejas num bar com mais alguns mochileiros do hostel, dos quais destaco os dois italianos de Bolonha que não sabiam que raio de convenção era essa que tem o nome da cidade deles. A noite acaba às 3h00. Há que dormir. Amanhã também é dia.

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