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O Império Contra-ataca. Primeiro o fim do mundo figurativo. Agora o fim do mundo literal. Não bem. Mas quase. Só um bocadinho mais a Norte.

Sunday, May 06, 2007

Dia 4 ::: 11-03-2007 ::: Ushuaia

O último dia em Ushuaia foi bastante tranquilo (e, vá lá, desinteressante para relatar). Mas como não era suposto ainda estar lá, o facto de não ter feito grande coisa no dia não me fez ficar com a sensação de que perdi tempo. Além disso, descansar é quase tão importante como tudo o resto. Pelo menos é o que dizem os sábios. E a minha mãe também quando me apanha a pé depois das 3 da manhã. Posta esta justificação acho que já preparei terreno para informar os meus caros leitores que neste quarto dia de viagem acordei já passava da 1 da tarde. Foi o resultado de 3 dias cheios e três noites mal dormidas.

Por outro lado, havia que impor certos limites financeiros (ao que isso me iria obrigar mais tarde...) e por isso havia ficado decretado por mim e por mim também que não iria embarcar em nenhuma aventura que envolvesse elevadas somas de divisa. Assim, a tarde foi ocupada com uma espécie de pequeno almoço reforçado e uma visita ao museu da prisão de Ushuaia.

Chegados à entrada do museu resolvemos observar preços. Parece que havia preço especial para estudante pelo que eu era o único que estava tramado. Ora a ver... Argentinos pagavam 10 pesos, cidadãos da Mercosul pagavam 18 pesos e o resto do mundo (que ainda é coisa para ser grandota pagava 30 pesos). Foi então que quase sem querer me saiu da boca em direcção aos ouvidos da senhora da bilheteira a seguinte frase (dita em espanhol):

Eu - "Ah e tal... eu sou brasileiro mas não tenho aqui nenhum documento comigo que o comprove!"

Ela - "Então mas nem um cartão com nome e fotografia?"

O caldo já estava entornado e já por isso deixei seguir a história.

Eu - "Não... deixo tudo no hostel para não perder."

Ela - "Hummm então deixa cá ver... hummm uma coisa que só um brasileiro soubesse... Qual é a capital do Brasil?"

Eu - "Brasilia??"

Ela (enquanto aprovava a resposta com um acento de cabeça para a colega) - "Ah! É brasileiro sim senhor. Pode passar!

É verdade meus amigos... temos aqui o terceiro momento tuga... E o mais giro é que nunca pensei que fazer-me passar por brasileiro me fosse trazer proveitos alguma vez na vida (toma lá Ricardo que é para não andares aí sempre a fazer pouco do português).

O museu em si não tem grande interesse. É um amontoado de assuntos e de histórias aparentemente sem nexo. Entramos numa cela temos a história de um prisioneiro. Na outra temos uma expedição à Antarctida, na outra temos umas estatuas que reproduzem um grupo de exploradores e na do fundo temos uma maquete do subsolo de Ushuaia e por aí em diante. Sem fio condutor nenhum (a não ser aquele que era usado na tortura dos presos).

O interessante é a história da prisão em si que de resto fomos sabendo por portas travessas. Para aqui, geralmente, só eram enviadas as pessoas que vinham morrer aqui. A primeira prisão era minúscula e a ilha tinha basicamente isso. Com o tempo, os presos construiram a sua própria prisão e também a cidade que havia de dar lugar ao que hoje é Ushuaia. Antes de existir a cidade, a única coisa que aqui havia eram os presos e os polícias. A única forma de sair de Ushuaia era um barco que vinha 1 vez não por dia, não por semana nem por mês e muito menos por semestre. Por ano! Um barco por ano! A prisão não tinha muros à volta. A razão era óbvia. Quem fugisse, por muito que aguentasse, a única coisa que encontrava era a morte. Ou o Paulo Portas. E por mais que encontrar o Portas em Ushuaia fosse uma hipótese diminuta, nenhum preso quis arriscar. Até ao dia em que um arriscou. Teve sorte. Morreu.
Diz também que esteve lá preso o famoso Carlos Gardel. Parece que por delitos menores. Parece-me bem... e ajustado também.

Os presos com maior influência e poder ficavam nas celas junto à caldeira. Parece que era um luxo. Eu não percebo bem a diferença de sobreviver com -20 graus ou com -30 mas parece que há.

O resto da visita foi mais passado a brincar com os bonecos espalhados pela prisão do que outra coisa. Para o final estava reservado o original Trem do fim do mundo. O comboio que levava os presos para aquilo que é hoje o Parque Nacional da Tierra del Fuego para que fossem trabalhar. Recolher madeira para a prisão e para a cidade.







O resto da tarde foi passado pelo centro da cidade. Preparar tudo (mochila, cabeça e logística) para a partida era o mais importante. Pelo meio, foi ao ar o jantar prometido pelos italianos e acabei num chinês (sim meus amigos já cá chegaram) a comer num tenedor libre (tipo come o que queres por 25 pesos), eu sei que não liga muito com chinês mas enfim... foi o que se arranjou. Acabei a noite num Irish com a Corinna e com dois cataláes que estão com 6 meses para fazer a américa do sul à boleia. Boa ideia para a carteira... possivelmente má ideia para a saúde. Digo eu... mas não sei...

Começar pelo fim

Começar em Ushuaia foi um pouco começar pelo fim. Até porque era aqui que queria terminar a minha viagem. Mas se comecei pelo fim comecei muito bem. Ushuaia foi o lugar ideal para desligar do andamento de Buenos Aires. Relaxar e preparar-me para o que vinha aí. Foi uma óptima experiência para começar a aventura de mochileiro e foi bem importante para as fases menos animadas da viagem porque me ia lembrando do quanto me diverti lá e que talvez na próxima cidade tivesse uma experiência semelhante. Ushuaia é muito mais que o Fim do Mundo como eu pensava. Tem imensa coisa para ver e houvesse tempo e dinheiro e ficava cá uma semana e não morria de tédio. O que fica por fazer fica para uma outra oportunidade. Espero eu.


E agora... fotos soltas:

No mp3: Break on through (to the other side) - The Doors.

1 Comments:

Blogger Ana S. said...

Assim é que eu gosto, prosa gonçaliana no seu melhor.

Btw, o Leonel Nunes vai à queima de Braga... queres vir? :P

8/5/07 2:20 PM

 

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