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O Império Contra-ataca. Primeiro o fim do mundo figurativo. Agora o fim do mundo literal. Não bem. Mas quase. Só um bocadinho mais a Norte.

Tuesday, July 10, 2007

Dia 7 ::: 14-03-2007 ::: Torres del Paine

O dia começa com duas notícias. Bom... tendo em conta que uma delas é que adormeci e quase falhei a excursão, podemos dizer que o dia começa com uma notícia. Afinal a canadiana não vem na minha excursão. Também não me chateia por aí além.

Continuo a ter presente o ambiente de festa de Ushuaia e o contraste com este que aqui vim encontrar e isso faz-me estar um pouco alheado do que estou a ver nos primeiros tempos de excursão. Também não é grave porque à parte de um enorme deserto de absolutamente nada, a única paragem é na Cueva del Mildeon que é um anímal pré-histórico reproduzido ali em fibra de vidro mas que não tem grande interesse.


O bicho era grandinho. A gruta... era isso mesmo.

O caminho, desertico na maior parte do tempo vai sendo acompanhado por Condores, que são bichos que, vá lá, metem algum respeito, Guanacos que são primos dos Llamas (já disse antes que esta é uma viagem cheia de primos de animais) e uma prima (olha mais uma) de avestruz que é semelhante mas mais baixa e cujo o nome, estupidamente não me estou a lembrar... Parece que há também Zorros (raposas) e Pumas. Mas destes não vi nenhuns e penso que às tantas será melhor assim...

Um Condor. O tal bicho que quando abre as asas faz o milhafre Vitória parecer um pardal.

O guia vai elogiando o tempo. Parece que em 5 meses só por 5 vezes se apanhou céu limpo. O facto de não haver vento faz deste o melhor dia da época.

O parque é um misto de nada e imponência. No horizonte, aparece o maciço erguendo-se aos céus com as suas garras pontiagudas. Vê-se de muito longe. Parece que Deus aproveitou aquela zona para fazer um prótotipo de montanha e depois foi fazer a verdadeira para outro lado. O que ali se vê parece um projecto inacabado e abandonado. As torres, são três e são de facto impressionantes. Três gigantescos blocos de granito sólido que rompem a montanha até ao céu, parecendo menires em equilíbrio.
No horizonte, aparece o maciço erguendo-se aos céus com as suas garras pontiagudas.
Mais à frente, a Lagoa Azul. O facto de praticamente não haver vento faz do lago um enorme espelho que às vezes nos deixa a pensar se não estaremos a ver o mundo de pernas para o ar. Alguns flamingos fazem a sua vida no lago, completamente alheios à maravilha que os rodeia e aos turistas que se amontoam para a fotografar.
"O lago é um enorme espelho que às vezes nos deixa a pensar se não estaremos a ver o mundo de pernas para o ar."
É um pouco mais à frente que se chega à entrada oficial do Parque Nacional, guardada por uns quantos Guanacos que olham de cima a paisagem controlando o que se passa à sua volta.
A paisagem não muda muito. Rude, dura e gigantesca, olha-nos de cima como se nos controlasse as acções sem sabermos. O circuito dos autocarros consiste em ir rodeando o maciço pela esquerda até ao Lago Grey.

"Guanacos que olham de cima a paisagem controlando o que se passa à sua volta."
Pelo caminho, outras formações como os Cuernos del Paine que hoje, excepcionalmente, se mostram aos turistas praticamente sem núvens. Umas quedas de água e algumas paisagens de cortar a respiração depois chegamos ao Lago Grey. Ao longe aparece como de mansinho bem integrado na paisagem árida e de gelo o primeiro Glaciar da minha viagem. Alguns icebergues vagueiam pelo lago. De onde estou parecem pequeninos. Quando formos mais perto logo ficarei a saber.
Os Cuernos del Paine.

"Quedas de água."
As paisagens de cortar a respiração.
Pode ver-se com precisão como era esta zona.
O risco que separa o branco do castanho nas rochas é o limite onde chegava o gelo há milhões de anos atrás. De todo este maciço, so os bicos mais escuros furavam o gelo até a suprefície.

É com este cenário que almoçamos. Quem tem dinheiro vai almoçar ao restaurante do hotel. O turista de pé descalço como eu almoça sentado no chão em algum lado as suas sandes e a sua água. Resultado: almocei sozinho. Eis quando senão ouço atrás de mim palavras que me soavam estranhamente familiares. Tão habituado que estou a estar rodeado de Espanhol (ou Castelhano, como preferirem) e às vezes mudar para inglês, ainda demorei um bocado a perceber que ao meu lado estavam a falar português.
Estar há tanto tempo fora faz-nos perder a noção de quando estão a falar a nossa língua materna mesmo ao nosso lado. Ouvimos, entendemos e damos como adquirido que é espanhol. Porque o entendemos também... Ainda pensei em ir lá cumprimentar. Mas olhando para mim provavelmente em lugar de um "Olá!" receberia "Ai Bernardo que horror o sem abrigo está a falar português..."
Assim sendo continuei a apreciar a paisagem sozinho com o meu mp3.

A vista do almoço.
Depois do almoço, fomos ver mai de perto o lago e os seus gigantes icebergues. Estar ali a metros de uma coisa que só estava habituado a ver nos filmes é emocionante. Aqueles tons, a forma delicada como flutuam na água e pesam toneladas faz-nos esquecer que um dia cão derreter para ser aquilo que sempre foram: água.




Parece-me uma boa altura para inserir aqui alguma informação e nesse sentido ficam a saber que o Parque Nacional Torres del Paine está integrado no chamado Campo de Hielo Sur que se espalha pela Patagónia Chilena e Argentina e que são a maior reserva de água doce do mundo a seguir aos pólos.

Hora de regressar sem paragens à entrada do parque. Aproveito a viagem para trocar de e-mails com um casal catalão com quem travei conhecimento e a quem fui tirando fotos (e ensinando a aproveitar melhor os recursos da máquina digital) e a quem fui pedindo para me tirarem fotos, cansado de esticar o braço e disparar a foto um pouco à sorte. Simpáticos, como todos os catalães que conheço lá foram à sua vida seguindo no autocarro enquanto eu mudei para um transfer que me levaria ao início da subida para as torres.
Nesse início de subida, aproveito a existência de uma pousada para deixar a mochila pesada e subir só com o essencial: saco cama, comida e uma muda de roupa. Dou também um salto à net pelo agradável preço de 10 dolares por 15 minutos (!!!!).
Aproveito e peço para me reservarem uma tenda num dos dois abrigos que tinha no caminho até às torres. O objectivo era ainda chegar ao segundo campo durante esse dia. Mas os problemas de comunicação atrasaram-me (e ainda por cima não havia nada disponível) e quando iniciei a caminhada já tinha decidido subir só até ao primeiro abrigo. O resto faria de madrugada...



O caminho tem a indicação de demorar 2 horas. Os primeiros 10 minutos são tranquilos. Depois sim, vem o problema. Ou melhor a tortura. Custou subir. E custou ainda mais passar pelos sacanas que desciam e me sorriam ao passar. Gelado (estava transpirado e o vento que me apanhava as costas atravessava-me até aos ossos) e com fome, chego ao abrigo já de noite para começar logo mal. Não, não havia tendas, não, não havia ninguém que me pudesse ceder um lugarzinho numa tenda e não, não podia ficar a dormir no chão da sala de jantar. Resultado: 20.000 pesos chilenos. Qualquer coisa como 30 euros por um colchão sem lençóis.
A meio caminho. O abrigo não se vê mas está bem lá ao fundo junto ao rio.
Nem parece longe. O problema é que aqui nunca se anda em linha recta nem plano...
As pessoas que estão por ali são todas mais velhas. As que não são... são israelitas. Começam os problemas. Não falam, não respondem, não sorriem, não ajudam. Não nada. São do mais antipático que se pode imaginar, mesmo quando tentamos ser simpáticos com eles. Começo a perceber o trauma de alguns dos mochileiros que fui conhecendo...
O abrigo é acolhedor e o pessoal que lá trabalha simpático. De resto foram os únicos com quem falei. Deram-me indicações para subir às torres e avisaram-me que teria de sair de noite para cumprir o objectivo de as ver de dia. Marcada a hora de despertar, resolvi ir dormir. As pernas e o corpo assim o exigiam e segundo eles, a subida de amanhã seria bem pior que a de hoje...

No mp3: The Aeroplane Flies High – The Smashing Pumpkins

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