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O Império Contra-ataca. Primeiro o fim do mundo figurativo. Agora o fim do mundo literal. Não bem. Mas quase. Só um bocadinho mais a Norte.

Wednesday, November 07, 2007

Dia 26 ::: 01-04-2007 ::: A caminho de Salta

De volta à Argentina. Sinto-me mesmo em casa neste país.

5121 km em 26 dias. Em linha recta. Porque na verdade foram muitos mais.


Passaram-se 12 horas desde que saí de Uyuni. De volta à Argentina os objectivos são claros: chegar o mais depressa possível a Salta. Espera de 1 horita e logo segui para Salta. A primeira parte da viagem foi feita a dormir. É um tipo de paisagem sem nada de especial que justifique a abertura de pestana. As únicas excepções, foram duas paragens forçadas pela polícia. Entraram no autocarro, pediram documentos, verificaram vistos. Não sei se estavam à procura de alguma coisa em específico ou se fazem isto com todos os autocarros que vêm da fronteira com a Bolívia. Não sei se era pelas metralhadoras na mão, mas fui invadido por aquela ansiedadezinha estúpida. Tipo como quando somos mandados parar pela BT e apesar de termos bebido água toda a noite trememos quando vamos soprar ao balão. Não que já tenha passado por isso. Nunca fui mandado parar. É uma das frustrações que tenho. Acho que vou tentar provocar isso. A partir de hoje andarei sempre a 230 km/h na autoestrada. Ou se calhar não. Acho que é melhor pensar noutra estratégia.

Já a segunda parte da viagem é diferente. Passando por Jujuy, faço de autocarro o passeio que costumam fazer as excursões nesta zona. Sempre junto à Quebrada de Humauaca, enormes paredes de pedra erguem-se diante de mim. Verdes, vermelhas, amarelas, por vezes até roxas. O fenómeno é conhecido em todo o mundo. Os diferentes minerais existentes nesta zona conferem as várias tonalidades à pedra. É uma vista inesperada e que apesar de repetitiva não nos permite afastar os olhos. Aqui e além um cacto marca presença. De resto, pouca vegetação. A estrada vai descendo a montanha numa enorme serpente. E às 16h chego a Salta.







Após consulta do guia percebi que havia na cidade dois backpackers hostel. Além de já saber que têm qualidade aceitável (se excluirmos o episódio de S. Pedro de Atacama) tinham a vantagem de ter uma pessoa no terminal a fazer a recepção. Lembrei-me da estratégia de El Calafate e tendo em conta que o autocarro vinha apinhado de israelitas (já os distinguia pelas famosas sandálias aos buracos entretanto tornadas moda em todo o mundo) não fui de meias medidas. Cheguei ao pé do recepcionista e disse "Qual é o hostel para onde vão os israelitas?" ele respondeu e eu disse "Então vou para o outro!". Ele riu-se. Eu não me orgulho. Mas não me arrependo também.

Instalado na nova casa, trato das diligências. Um mapa de Salta para ver o que fazer e sigo para um café. É altura de confortar o estômago e de definir planos. Ao fim de quase um mês de viagem intensa, o cansaço (físico e psicológico) começa-se a notar. Já não faltam muitos dias para o fim da viagem, o budget já há muito foi ultrapassado e estou agora em alta contenção de custos. Decido finalmente a última paragem: Mendoza. A alternativa era Córdoba mas acabei por optar por Mendoza porque sabia que em Córdoba o melhor eram as montanhas e eu não ia ter hipótese de as conhecer. Em Mendoza, estava a oportunidade de fazer sky diving muito barato (segundo me tinham dito em Ushuaia) e reencontraria a Corinna, a alemã que fez parte da viagem comigo (de Ushuaia a Punta Arenas). Era acabar como havia começado. Nesse sentido e no sentido de regressar à cidade que conheci na primeira incursão fora de Buenos Aires.

Em Salta não faria nenhuma excursão. A Quebrada já eu a tinha visto na viagem, o trem das nuvens estava fechado. E fora isso restava conhecer a cidade. Passaria assim o dia seguinte. Depois então seguiria para Mendoza.

A noite foi passada com gente porreira do hostel. Também nisto é giro viajar sozinho. Conhecemos tanta gente todos os dias e separamo-nos delas tão depressa, que saber o nome e a proveniencia delas começa a não ser indispensável. De um grupo de 5 ou 6 pessoas com quem jantei nessa noite recordo apenas uma rapariga que era designer na BBDO em Buenos Aires. E porque me ficou na memória por questões de afinidade profissional. O resto das pessoas, recordo-me da presença delas. Recordo-me até de algumas historias e conversas. Mas as caras e os nomes vão-se perdendo com o tempo. No dia seguinte já não sabia o nome de ninguém. Parece que só ficou o essencial. O superficial foi excluído automaticamente pela memória. As informações que se acumulam são já demasiadas para decorar tudo.

No mp3: Clandestino - Manu Chao (a música manteve-se porque está associada à aventura da viagem e à presença dos amigos polícias)

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