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O Império Contra-ataca. Primeiro o fim do mundo figurativo. Agora o fim do mundo literal. Não bem. Mas quase. Só um bocadinho mais a Norte.

Tuesday, July 17, 2007

Dia 14 ::: 21-03-2007 ::: Bariloche e arredores

O dia começa bem. O telemóvel já devia estar a despertar há uns tempos porque quando acordei estava diante de mim com o telemóvel nas mãos um dos ingleses que ontem acabou a noite podre de bêbado. Era daqueles ingleses típicos, à Rooney. Baixo, entroncado, atarracado e de cabelo rapado. Os olhos chispavam de fúria, estava vermelho (talvez com a ajuda da noite anterior) enquanto tentava calar aquele toque irritante e simultaneamente dirigia impropérios não sei se a mim ou ao telemóvel. Já na paragem de autocarro, tomo a carreira que me levaria ao porto. Uma viagem de 40 minutos, quase sempre junto ao lago, pelo meio de relvados e árvores, com as suas casinhas de madeira sempre impecáveis. Deu para conhecer a parte mais genuína de Bariloche. Bem longe do centro da cidade. Chegado ao porto e vista a companhia cheguei a temer um enorme erro. Dei comigo a pensar:

"Queres ver que foste metido numa excursão de terceira idade?"

É que posso garantir que nenhuma das pessoas que via teria menos de 70 anos... Afinal não. Havia um casal de namorados se bem que pelo índice de bimbice (esta palavra existe?) não seria também uma companhia propriamente agradável. Ia mesmo ser uma jornada individual. E eu não estava minimamente importado com isso. Já me começava a habituar...


Hotel Llao Llao, junto ao porto.



O porto já visto do lago.

Entro então no barco rumo à primeira paragem. Bosque dos Arrayanes. A paisagem da viagem é de facto encantadora. Um lago calmissimo de água transparente, montanhas a toda a volta, árvores na margem e uma paz enorme. Aqui e ali uma ilha no lago marca presença. Se as vistas são lindas nesta altura, no inverno, cobertas do branco da neve devem ser incríveis. A chegada ao Bosque dá-se neste clima de paz de espírito.

O tempo de paragem é curto, sendo suficiente apenas para uma volta pelo bosque seguindo os passadiços. É o que faço mas no início preocupo-me em acelerar um pouco para ganhar distância do grupo e apreciar a tranquilidade que ali se sente sozinho com a minha música. Os Arrayanes são um case study aqui. Arbustos em todo o mundo, só nesta pequenissima área ganham o estatuto de árvore.os seus troncos apresentam uma cor entre o castanho claro e o amarelo. Diz-se que foi aqui que Walt Disney foi buscar a inspiração para criar o Bambi. E é fácil de perceber porquê. O bosque cerrado, a vegetação rasteira, o lago transparente e o ambiente totalmente desligado do mundo dão a este espaço um certo ambiente de magia. Pelo meio, duas ou três cabanas de madeira perfeitinhas dão o toque final ao ambiente Disney. Mas o tempo é curto e a buzina grossa do barco arranca-nos da fantasia. Há que partir para a Isla Victoria.



Uma maneira diferente de fazer escadas.

Os Arrayanes, propriamente ditos.


Rei morto, rei posto. Já estou de novo em alta no visual com este fantástico par de óculos comprado numa qualquer loja de Bariloche a um preço ridículo.


Bem no meio do lago, a Isla Victoria aparece com as suas enormes árvores. É uma espécie de estufa mundial. Aqui, podemos encontrar espécies de todos os continentes, como os nossos conhecidos eucaliptos australianos rodeados de vulgares silvas e no minuto seguinte estamos a olhar para Sequoias americanas, enormes e imponentes. Por razões óbvias, o continente menos representado aqui é o africano mas mesmo esse tem aqui alguns representantes. A floresta, as casas, os relvados verdes e o lago continuam a empurrar-me para a paisagem tirolesa. Meus amigos... estou nos Alpes. E espero ver a qualquer momento a famosa vaca roxa da televisão. Aqui passámos o resto do dia. A passear pela ilha. Infelizmente, a melhor trilha está fechada para reparação porque o mau tempo que se fez sentir nos dias antes de eu chegar estragou os caminhos que estão agora em risco de derrocada. Paciência.
O barco. Parece que é famoso. Já transportou famílias reais e tal...
Recantos...
Nunca falha.
Mais recantos...

Ora isto é uma pinha de Sequóia. Sim. Aquela árvore gigante produz esta pinha ridícula. E haviam de ver a semente. É um pontinho que quase não se vê.


O regresso faz-se pelo fim da tarde cruzando as calmas e transparentes águas do Lago Nahuel Huapi. O ambiente tranquilo convidava a uma reflexão e a decisões importantes para a viagem. Gostei do que vi. Mas foi um dia calmo. Muito calmo. E já era o terceiro que tinha assim contando com a viagem. Estava a precisar de alguma coisa mais activa. Daí que decidi seguir no dia seguinte para Bariloche. A ideia era seguir para San Martim de Los Andes. De lá seguiria para Pucón, de volta ao Chile. Isto porque segundo me disseram, amanhã não havia autocarros para Pucón. Pelo que se era para esperar mais um dia sempre aproveitava para conhecer outra cidade de referência desta zona.



À noite durante o jantar uma rapariga chocada porque eu estava a comer batatas fritas com o hamburguer e um rapaz que insistia que o Hitler simulou o suicídio e veio viver para Bariloche e que isso está provado preencheram-me a noite. Isso e os ingleses cuja anatomia começo a questionar. À quantidade de álcool que bebem não podem ter fígado.

No mp3: Cupid de Locke - Smashing Pumpkins (é parece que está de volta ao mesmo)

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Eu adorei o seu blog. Sou brasileira e vivo em Buenos Aires há anos anos e a descrição da sua chegada retrata perfeitamente a minha em 2005, a sensação que tive, a felicidade que senti.
Se precisar de algo aqui, me escreva. Michele_goncalves@hotmail.com
Um abraço

14/5/09 4:21 AM

 
Anonymous Anonymous said...

Eu adorei o seu blog. Sou brasileira e vivo em Buenos Aires há 4 anos e a descrição da sua chegada retrata perfeitamente a minha em 2005, a sensação que tive, a felicidade que senti.
Se precisar de algo aqui, me escreva. Michele_goncalves@hotmail.com
Um abraço

14/5/09 4:22 AM

 

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