Dia 21 ::: 27-03-2007 ::: S. Pedro Atacama
São 4 da manhã e é-me servido o pequeno-almoço que pedi na véspera. Um pão seco com queijo velho e um café com leite que não tive coragem de beber até meio. Paciência. Também não há tempo para mais porque a carrinha está aí. Começa a viagem de 2 horas até aos Geisers. E o que posso dizer desta viagem? Posso dizer que:
1- Não sei porque põe bancos na carrinha. Graças às crateras que são aquelas estradas, o tempo que passamos sentados no banco não justificam.
2- Obrigado ao senhor que decidiu não respeitar o aviso do guia e decidiu pôr uma mochila por cima do meu banco. Soube mesmo bem, depois de ter finalmente adormecido, acordar com um mochilão bem em cheio na tromba. Ah como eu gosto disso.
À chegada ao parque sou "acordado" (as aspas são porque não estava verdadeiramente a dormir, porque isso era impossível ali) pelo guia com as primeiras informações. E a primeira informação vem em forma de pergunta. "Porque é que estão aqui a estas horas?". Sim... essa era a pergunta que ia na mente de toda a gente. Porquê às 4 da manhã?? A resposta torna-se óbvia. Não é que os geisers so funcionem de madrugada. É que às 6 da manhã já há luz para os ver. E há outra questão. Enquanto o sol está baixo, as temperaturas são negativas. E isso permite ver melhor o vapor que sai dos Geisers. Tem lógica.
Quando saimos da carrinha olho à volta. O cenário é, no mínimo, estranho. Tudo árido, uma luminosidade que não deixa perceber as horas que são, um céu nublado, uma mistura de cores que varia entre o bege, o amarelo e o vermelho e aqui e ali do chão irrompem colunas de fumo. O parque está cheio. Todas as excursões aos geisers são feitas a esta hora.
As horas que se seguem são passadas a caminhar entre os geisers. Há grandes, pequenos, enormes e médios. Uns de actividade constante (na verdade não são geisers mas sim fumarolas) e há outros que param actividade por alguns minutos para logo irromperem rumo ao céu. Passo a explicar o funcionamento da coisa.
Por baixo do solo, há bolsas de água. A próximidade de lava aquece essa água a uma temperatura acima dos 100 graus. Depois, ser geiser ou fumarola depende do tipo de bolsa. Umas prendem a água. Ou seja, durante algum tempo não há libertação de vapor ou de água. O aquecimento da água começa a fazer aumentar a pressão dentro da bolsa até que se torna insustentável e a água rompe até a supreficie. Mais ou menos como se trilhassem uma mangueira até ela inchar e depois a largassem. Quando a pressão é equilibrada, o geiser para. Mas só até voltar a acumular a pressão necessária para rebentar de novo. Outros, pela abertura estáo em permanente funcionamento. São mais pequenos e são mais água borbulhante do que vapor. São as fumarolas. Tá percebido? Prontes então.


Geiser.
Naquele ali deve-se ter viajado mais confortável...






Um ex-geiser. É incrivel como aqui a terra parece ter veias como se de um corpo se tratasse.

E aqui parecem bolhas de queimadura.

E uma ferida aberta.


Já na parte final, visita ao grande geiser. Na verdade eram geisers diferentes que pela erosão do solo se fundiram e se tornaram num só. Ali uma placa lembrava que deviamos seguir os carreiros indicados pelas pedras. Senão podiamos sempre ir tomar banho com os restos de turistas que ali cairam já. E não me pareceu agradável a ideia.
Ei-lo ao longe.
Vai um banho maria?

"Frio!! Frio!! Frio!!! QUENTE!! QUENTE!! QUENTE!! Ah tá bom! Foto agora!!!" *Click*
Segue-se mais um vídeo "simpaticamente" cedido por alguem via You Tube. Obrigado Deus por esta invenção!! Aproveito para explicar que os cones que se vêem à volta de alguns geisers são provocados pela actividade dos mesmos. Às vezes parecem mini vulcões de água. É um fenómeno de certa forma parecido com as estalactites e estalagmites. Então cá vai:
Foi hora de regressar. Mas a volta teria algumas paragens. Pelo meio do deserto de atacama, vi um mar de absolutamente nada. Enormes planaltos rodeados de montanhas. Algumas delas vulcões já extintos. Aqui e ali um Guanaco, um Llama. Até que fazemos a primeira paragem. Um conjunto de Llamas pasta ali mesmo ao lado. Alguns têm uns panos coloridos a enfeitar e outros não. É a diferença entre os domesticados e os nem por isso. São uns animais pachorrentes, simpáticos mas pouco dados. Não admitem aproximações e conhecendo eu o hábito de cuspirem em quem os irrita também não forcei muito a aproximação.




A cara de sofrimento é porque está quente e não pelo sabor.
Mais uma arrancada, mais uma paragem. São os primeiros cactos da minha viagem. São enormes, fantásticos, lindos. Iguais aos dos filmes de cowboys que vemos na televisão. Por momentos fui transportado para o ambiente Sancho Pança e Bonanza (lembram-se?). O cenário é igual. Deserto absoluto. Pedras por todo o lado, areia e terra. Alguma vegetação rasteira deprimente e os enormes cactos a vigiar as redondezas. Foi um momento da viagem.
Pança. Sancho Pança.
É capaz de picar um bocadinho.
A chegada a S. Pedro de Atacama faz-se às 14h. Combinado um jantar com alguns dos elementos da excursão, combino com o Miguel um almoço tardio. Era altura de descansar. E assim fiz. Directo ao meu quarto onde um sono retemperador me esperava. O corpo dormido da viagem aos saltos, a cabeça trocada pelas poucas horas dormidas e pelo enxofre respirado da manhã, a mente a pedir descanso para aproveitar o resto do último dia em S. Pedro. Deito-me na cama. Estico o corpo. E levanto a almofada para a ajeitar melhor. E acabou-se o sono. Assim que levanto a almofada um "simpático" rato sai disparado de lá. Ainda me faz uma festa na mão pelo caminho. E acho que foi o ponto alto de toda a viagem a nível de palavrões. Há que definir prioridades. Decisões não há. Já está imediatamente tomada. Ali não fico nem mais um minuto. Fecho a minha mochila bem fechada (estava no chão) e chamo o empregado. E digo eu:
Eu - "Oh amigo! Estava um rato debaixo da minha almofada!"
Ele - "Um gato?!?! E tens medo?!"
Eu - "Um gato?! Não é um gato! É um rato!!!"
Ele - "Pronto eu tiro-te o gato!"
Eu - "Não é um gato!!! É um RATO!!! Um roedor!!!"
Ele - "Um Raton?!?!?!"
Eu - "Isso pá! Um Raton!!"
Ele - "No!!!"
Eu - "Si!!!"
Ele - "No!!!"
Eu - "Si!!!"
Ele - "No creo!!!"
Eu - "Ai não? Então olha!!! (levanto a almofada) Mierda de Raton!!! Parece que não só estava como já estava há algum tempo!!!"
E pronto. Toca de pegar nas coisas, pagar o que tinha a pagar e bazar. Ia pro hostel do miguel. Não estava à espera de muito melhor. Mas ali não ficava de certeza! Saí cá para fora e logo escuto ao longe: "Hey Ronaldo!!". Ainda estive um momento indeciso. Acho que preferia voltar para o rato do que ter de as aturar ali outra vez. Mas felizmente desta vez limitaram-se a acenar ao longe. De maneiras que pés a caminho. New hostel, new life.
Quarto alugado, decidi passar vistoria. Assim que fecho a porta noto uma enorme frincha por baixo da porta. Havia ali rato de certeza! Não havia. Mas só descansei quando arrastei tudo o que havia para arrastar naquele quarto e vi todas as gavetas e debaixo de todas as almofadas (não, brincas). Além do mais, arrastei a minha cama para o meio do quarto para não estar em contacto com nada. Uma espécie de uma ilha. E calaftei a porta com uma tshirt. Não havia de entrar nenhum sacana de nenhum rato. Felizmente ninguém mais foi para aquele quarto. Ainda seria humilhante o tipo de figura que estava a fazer.
Com as emoções do Mickey, ficou condenada a soneca e a excursão de sandboard que estava a pensar fazer à tarde. Fiquei ali pelo hostel com um jardim muito porreiro cheio de camas brasileiras e bancos simpáticos. Aproveitei para pôr a escrita em dia até o Miguel acordar e irmos para o restaurante. O jantar, animado, serviu também para conhecer 3 companheiros na viagem de amanha. Ginger, Helena, Fiona e Mick. Irlandeses, simpáticos, animados. Boa companhia para amanhã. À mesa estavam também três americanas conversadoras e anti-bush. Foi portanto uma noite de boa companhia e animação. À qual se juntaria mais tarde o Zorro. Até teria tirado uma foto com ele. Não fosse ser paga e bem paga.

Jantar animado.
E tudo estava bem. Até que saí do restaurante. E aí estão elas! Mais um "Hey Ronaldo!!!!" e mais umas fotos. À segurança confirmei que não seguiam para Uyuni. Thank God. Era a despedida das fãs. E de S. Pedro de Atacama também.
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