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O Império Contra-ataca. Primeiro o fim do mundo figurativo. Agora o fim do mundo literal. Não bem. Mas quase. Só um bocadinho mais a Norte.

Sunday, July 22, 2007

Dia 21 ::: 27-03-2007 ::: S. Pedro Atacama

Acordei certinho! Tem acontecido demasiadas vezes. Acho que estou a ficar doente. Mas há aqui uma explicação plausível. Acordei tão cedo que acho que nem tive tempo de mergulhar em sono profundo.

São 4 da manhã e é-me servido o pequeno-almoço que pedi na véspera. Um pão seco com queijo velho e um café com leite que não tive coragem de beber até meio. Paciência. Também não há tempo para mais porque a carrinha está aí. Começa a viagem de 2 horas até aos Geisers. E o que posso dizer desta viagem? Posso dizer que:

1- Não sei porque põe bancos na carrinha. Graças às crateras que são aquelas estradas, o tempo que passamos sentados no banco não justificam.

2- Obrigado ao senhor que decidiu não respeitar o aviso do guia e decidiu pôr uma mochila por cima do meu banco. Soube mesmo bem, depois de ter finalmente adormecido, acordar com um mochilão bem em cheio na tromba. Ah como eu gosto disso.

À chegada ao parque sou "acordado" (as aspas são porque não estava verdadeiramente a dormir, porque isso era impossível ali) pelo guia com as primeiras informações. E a primeira informação vem em forma de pergunta. "Porque é que estão aqui a estas horas?". Sim... essa era a pergunta que ia na mente de toda a gente. Porquê às 4 da manhã?? A resposta torna-se óbvia. Não é que os geisers so funcionem de madrugada. É que às 6 da manhã já há luz para os ver. E há outra questão. Enquanto o sol está baixo, as temperaturas são negativas. E isso permite ver melhor o vapor que sai dos Geisers. Tem lógica.

Quando saimos da carrinha olho à volta. O cenário é, no mínimo, estranho. Tudo árido, uma luminosidade que não deixa perceber as horas que são, um céu nublado, uma mistura de cores que varia entre o bege, o amarelo e o vermelho e aqui e ali do chão irrompem colunas de fumo. O parque está cheio. Todas as excursões aos geisers são feitas a esta hora.





As horas que se seguem são passadas a caminhar entre os geisers. Há grandes, pequenos, enormes e médios. Uns de actividade constante (na verdade não são geisers mas sim fumarolas) e há outros que param actividade por alguns minutos para logo irromperem rumo ao céu. Passo a explicar o funcionamento da coisa.

Por baixo do solo, há bolsas de água. A próximidade de lava aquece essa água a uma temperatura acima dos 100 graus. Depois, ser geiser ou fumarola depende do tipo de bolsa. Umas prendem a água. Ou seja, durante algum tempo não há libertação de vapor ou de água. O aquecimento da água começa a fazer aumentar a pressão dentro da bolsa até que se torna insustentável e a água rompe até a supreficie. Mais ou menos como se trilhassem uma mangueira até ela inchar e depois a largassem. Quando a pressão é equilibrada, o geiser para. Mas só até voltar a acumular a pressão necessária para rebentar de novo. Outros, pela abertura estáo em permanente funcionamento. São mais pequenos e são mais água borbulhante do que vapor. São as fumarolas. Tá percebido? Prontes então.


Geiser.

Fumarola.

Naquele ali deve-se ter viajado mais confortável...


Olhó Geisere!!!

Diz que a terra tá a pegar fogo.

As cores do enxofre.

Onde há fumo...

... nem sempre há fogo. (pelo menos à superfície)

Confesso que andar sobre um chão frágil (as instruções para não caminharmos junto aos geisers e fumarolas são constantes) que encobre uma enorme panela de água a ferver não é agradável. Aquele piso é, em muitas zonas, frágil e é preciso ter atenção a onde se está a pôr os pés porque podemos pisar uma zona sensível e o chão pode ceder. E o resultado de mergulhar ali não deve ser muito agradável. Que o digam os vários turistas que já ali morreram cozidos por não respeitarem as regras.

Um ex-geiser. É incrivel como aqui a terra parece ter veias como se de um corpo se tratasse.

E aqui parecem bolhas de queimadura.

E uma ferida aberta.

Do you really wanna know what's under this?

Tomámos um pequeno almoço simpático. Leite aquecido nas fumarolas e umas bolachinhas. A pressão sente-se aqui pelo que não é aconselhável fumar ou correr. Tem de ser feito tudo com relativa lentidão. E isso havia de me custar mais uma série de fotografias. Isto porque estou a caminhar pacificamente quando ouço ao longe: "Hey Ronaldo!!!". Sim... eram as miúdas da véspera. E pior, trouxeram as amigas. As dezenas de amigas. Era uma excursão escolar. E pronto. Fui obrigado a uma sessão com todas, individuais, com geiser, sem geiser, com fumarola, sem fumarola... enfim... Não podia correr porque não era aconselhável, de maneiras que fui apanhado. E não podia recusar. Um gajo tem de agradar aos fãs (mas não tirei nenhuma foto para mim).

Nada na manga? (efeitos especiais fabulosos!!)

Já na parte final, visita ao grande geiser. Na verdade eram geisers diferentes que pela erosão do solo se fundiram e se tornaram num só. Ali uma placa lembrava que deviamos seguir os carreiros indicados pelas pedras. Senão podiamos sempre ir tomar banho com os restos de turistas que ali cairam já. E não me pareceu agradável a ideia.

Ei-lo ao longe.

Vai um banho maria?

A última paragem no geiser era opcional. À nossa frente estava uma piscina de água naturalmente aquecida. Quem quisesse que lá fosse. Ora como quando eu pago quero tudo aquilo a que tenho direito não me fiz rogado. E lá fui eu. Mas aquilo é um bocado enganador. A temperatura (naquela altura uns 5 ou 6 graus) não era convidativa mas a ideia de água quente sempre atrai. O problema é que meia volta o esquentador desligava-se. Passo a explicar. Aquela piscina natural não é mais do que a acumulação de água de alguns geisers. Quer isto dizer que ora é gelada ora é escaldante consoante o geiser está ou não a funcionar ali ao lado. De maneiras que os sons que se ouviam eram qualquer coisa como: "frio! frio! frio!!!! QUENTE!!!! QUENTE!!!! QUENTE!!!! aaaaah que booooo FRIO!! FRIO!! FRIO!!! AAH QUENTE!!!! QUENTE!!! QUENTE!!!!" De maneiras que o banho não durou muito.

"Frio!! Frio!! Frio!!! QUENTE!! QUENTE!! QUENTE!! Ah tá bom! Foto agora!!!" *Click*


Segue-se mais um vídeo "simpaticamente" cedido por alguem via You Tube. Obrigado Deus por esta invenção!! Aproveito para explicar que os cones que se vêem à volta de alguns geisers são provocados pela actividade dos mesmos. Às vezes parecem mini vulcões de água. É um fenómeno de certa forma parecido com as estalactites e estalagmites. Então cá vai:


Foi hora de regressar. Mas a volta teria algumas paragens. Pelo meio do deserto de atacama, vi um mar de absolutamente nada. Enormes planaltos rodeados de montanhas. Algumas delas vulcões já extintos. Aqui e ali um Guanaco, um Llama. Até que fazemos a primeira paragem. Um conjunto de Llamas pasta ali mesmo ao lado. Alguns têm uns panos coloridos a enfeitar e outros não. É a diferença entre os domesticados e os nem por isso. São uns animais pachorrentes, simpáticos mas pouco dados. Não admitem aproximações e conhecendo eu o hábito de cuspirem em quem os irrita também não forcei muito a aproximação.

Deserto de Atacama.

Dois Llamitas domesticados. Mais atrás um nem por isso.

Mais adiante, nova paragem. Estamos agora junto a uma pequena aldeola. Não percebo. 10 casas, das quais um café para turistas e... uma igreja. Claro. Não podia faltar. Faz-me impressão como é que aquela gente vive ali. Cria os seus Llamas, no meio do nada. Do absolutamente nada. Não são mais de 10 pessoas. Vivem ali a vida toda. Não conhecem nada. Não sabem nada do mundo. Estão desligados de tudo o que saia daqueles poucos metros quadrados. E vivem felizes assim. Não entendo como. Não percebo como. Mas eles são felizes assim. E eu tudo bem. E ainda bem que ali estavam porque graças a isso pude provar a iguaria da viagem: Llama. Uma bela espetada de Llama. E não era má. Tipo porco, um pouco mais doce e mais gordurosa. Mas era boa. Ou então era da fome. Não sei...


Aí está ela. Sobre a cidade. Para vigiar os seus fiéis.

A cara de sofrimento é porque está quente e não pelo sabor.

Mais uma arrancada, mais uma paragem. São os primeiros cactos da minha viagem. São enormes, fantásticos, lindos. Iguais aos dos filmes de cowboys que vemos na televisão. Por momentos fui transportado para o ambiente Sancho Pança e Bonanza (lembram-se?). O cenário é igual. Deserto absoluto. Pedras por todo o lado, areia e terra. Alguma vegetação rasteira deprimente e os enormes cactos a vigiar as redondezas. Foi um momento da viagem.

Pança. Sancho Pança.

É capaz de picar um bocadinho.

A chegada a S. Pedro de Atacama faz-se às 14h. Combinado um jantar com alguns dos elementos da excursão, combino com o Miguel um almoço tardio. Era altura de descansar. E assim fiz. Directo ao meu quarto onde um sono retemperador me esperava. O corpo dormido da viagem aos saltos, a cabeça trocada pelas poucas horas dormidas e pelo enxofre respirado da manhã, a mente a pedir descanso para aproveitar o resto do último dia em S. Pedro. Deito-me na cama. Estico o corpo. E levanto a almofada para a ajeitar melhor. E acabou-se o sono. Assim que levanto a almofada um "simpático" rato sai disparado de lá. Ainda me faz uma festa na mão pelo caminho. E acho que foi o ponto alto de toda a viagem a nível de palavrões. Há que definir prioridades. Decisões não há. Já está imediatamente tomada. Ali não fico nem mais um minuto. Fecho a minha mochila bem fechada (estava no chão) e chamo o empregado. E digo eu:

Eu - "Oh amigo! Estava um rato debaixo da minha almofada!"

Ele - "Um gato?!?! E tens medo?!"

Eu - "Um gato?! Não é um gato! É um rato!!!"

Ele - "Pronto eu tiro-te o gato!"

Eu - "Não é um gato!!! É um RATO!!! Um roedor!!!"

Ele - "Um Raton?!?!?!"

Eu - "Isso pá! Um Raton!!"

Ele - "No!!!"

Eu - "Si!!!"

Ele - "No!!!"

Eu - "Si!!!"

Ele - "No creo!!!"

Eu - "Ai não? Então olha!!! (levanto a almofada) Mierda de Raton!!! Parece que não só estava como já estava há algum tempo!!!"

E pronto. Toca de pegar nas coisas, pagar o que tinha a pagar e bazar. Ia pro hostel do miguel. Não estava à espera de muito melhor. Mas ali não ficava de certeza! Saí cá para fora e logo escuto ao longe: "Hey Ronaldo!!". Ainda estive um momento indeciso. Acho que preferia voltar para o rato do que ter de as aturar ali outra vez. Mas felizmente desta vez limitaram-se a acenar ao longe. De maneiras que pés a caminho. New hostel, new life.
Quarto alugado, decidi passar vistoria. Assim que fecho a porta noto uma enorme frincha por baixo da porta. Havia ali rato de certeza! Não havia. Mas só descansei quando arrastei tudo o que havia para arrastar naquele quarto e vi todas as gavetas e debaixo de todas as almofadas (não, brincas). Além do mais, arrastei a minha cama para o meio do quarto para não estar em contacto com nada. Uma espécie de uma ilha. E calaftei a porta com uma tshirt. Não havia de entrar nenhum sacana de nenhum rato. Felizmente ninguém mais foi para aquele quarto. Ainda seria humilhante o tipo de figura que estava a fazer.

Com as emoções do Mickey, ficou condenada a soneca e a excursão de sandboard que estava a pensar fazer à tarde. Fiquei ali pelo hostel com um jardim muito porreiro cheio de camas brasileiras e bancos simpáticos. Aproveitei para pôr a escrita em dia até o Miguel acordar e irmos para o restaurante. O jantar, animado, serviu também para conhecer 3 companheiros na viagem de amanha. Ginger, Helena, Fiona e Mick. Irlandeses, simpáticos, animados. Boa companhia para amanhã. À mesa estavam também três americanas conversadoras e anti-bush. Foi portanto uma noite de boa companhia e animação. À qual se juntaria mais tarde o Zorro. Até teria tirado uma foto com ele. Não fosse ser paga e bem paga.

Jantar animado.

E tudo estava bem. Até que saí do restaurante. E aí estão elas! Mais um "Hey Ronaldo!!!!" e mais umas fotos. À segurança confirmei que não seguiam para Uyuni. Thank God. Era a despedida das fãs. E de S. Pedro de Atacama também.

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