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O Império Contra-ataca. Primeiro o fim do mundo figurativo. Agora o fim do mundo literal. Não bem. Mas quase. Só um bocadinho mais a Norte.

Thursday, July 19, 2007

Dia 17 ::: 24-03-2007 ::: Pucón

O acordar teria de ser cedo. A excursão de Hidrospeed começava às 10h00 e eu não tinha lugar marcado. Por isso queria chegar cedo para não correr riscos. Às 8h acordo. Com o primeiro tocar do despertador. Coisa nunca antes vista nesta viagem (e poucas vezes vista no resto da minha existência). Mas as horas que dormi permitem perceber porque acordei tão bem.O hostel estava calmo. Fui tomar banho. O hostel continuava calmo. Arrumei as coisas. O hostel continuava calmo. Fui comer. O hostel continuava calmo. Fui à internet. Eram 8h00. Como? 8 horas???? Olhei para o telemóvel. 9h00 dizia ele. Olha... mudei a hora do telemóvel sem querer... Ou então não. A hora tinha mudado e eu não sabia.Conseguido o lugar na excursão, juntei-me às australianas e pelo caminho até ao rio recolhemos 3 israelitas. Postos os fatos, sem direito a fotos porque convenhamos que andar num rio de máquina não dá jeito, lá nos atirámos para a água.



O funcionamento do Hidrospeed é este que viram em cima em fotos cedidas com enorme gentileza e total desconhecimento por alguém que as colocou na internet. Uma prancha tipo bodyboard com uma zona para encaixar os braços e um sítio para agarrar. Um capacete, umas barbatanas e um fato térmico (felizmente porque o rio andava pouco longe de gelado). De resto... nada de barco. So aquela prancha, nós, a água e os milhares de calhaus que se cruzariam no nosso caminho.Começam as explicações. Um dos israelitas com pouco jeito para a coisa mostra alguma dificuldade. Outro está meio distraído. O guia é brusco com eles. Diria... mal educado. Mais tarde revelar-nos-ia (a mim e às australianas) que não gosta de israelitas. O mau ambiente começou a instalar-se na comitiva. E devo dizer que por causa do guia. Eu não tive razões de queixa. Era um porreiro comigo. Mas com eles foi mal educado. E tudo bem que os israelitas possam ter má fama nestas andanças. Mas ainda são o cliente e de qualquer forma não me parece uma maneira correcta de se tratar as pessoas.
As regras eram básicas. Seguiriamos todos em fila indiana, com atenção ao guia que seguia na frente. Era só seguir o caminho dele, virar onde ele virava e evitariamos as pedras. À primeira vista nada de difícil.

Começa a descida. Calma no início. Seria por pouco tempo. Chega a primeira fase de rápidos. Ainda não muito fortes mas suficientes para lançar o caos. Naquele momento, era cada um para seu lado, a chocar uns contra os outros. Enfim... levámos sermão. Óbvio. Particularmente um dos israelitas que, coitado, bem tentava perceber para que serviam aquelas coisas que lhe apertavam os pés chamadas barbatanas e que só lhe dificultavam a vida. Mas por mais que tentasse explicar-lhe, o tipo não percebia que o objectivo das barbatanas é serem batidas dentro de água e não acima. Isso só serve para atirar água ao tipo de quem atrás e não ter a mínima interferência na descida.Antes do início da segunda fase de rápidos, novas instrucções. No final dos rápidos teriamos de ser rápidos (viram o trocadinho genial?) e encostar à margem direita do rio. Nada de perder tempo. Foi o que mais ou menos fizemos todos. Menos... claro. O israelita. Passa por nós disparado. Com ar de quem não sabe muito bem o que aí vem segue que nem uma bala rio abaixo. Guia a gritar, nós a olhar e o tipo a descer. Nem por nada conseguia virar para a margem. E logo sai o guia disparado atrás dele. Desaparecem na corrente e voltam 10 minutos depois. A passo. Pela margem. Desgraçado do rapaz vinha com cara de infeliz. Sentado na margem comenta comigo: "As raparigas fazem isto parece tão fácil...". Coitado... além de incapaz está envergonhado.Envergonhado e afastado. Ficou definido que ele e a namorada, antes dos rápidos maiores ficariam na margem à espera da carrinha que os iria buscar.

Nós percebemos então porque é que tinhamos de parar ali. Voltámos um pouco atrás junto a uma pedra enorme. Aquilo provocava um efeito esquisito na corrente, uma espécie de onda fixa onde conseguimos fazer uma espécie de bodyboard. Aquilo era giro. O problema era aguentar a corrente enquanto esperavamos vez. Mas o Gonçalo nunca dorme. Mesmo ali a jeito, preso num calhau estava um tipo de kayake que nos ia acompanhando e sacando fotos (para depois vender a um preço exorbitante que, naturalmente, recusámos). Não é tarde nem é cedo. Braço grande e manápula gigante haviam de servir para alguma coisa. Estico o braço e agarro-me ao barquito. O tipo bem gritava: "Larga! Larga! Olha que me atiras ao chão!". Tá bem tá. Fingi que não compreendia. Pelo menos não me cansava.Passada a diversão na surf area, seguimos rio abaixo de forma calma até que, como combinado, dois dos três israelitas ficaram na margem. Isto tinha dois significados. Por um lado, significava que o caldo estava definitivamente entornado entre eles e o guia e por outro (para mim mais preocupante) que vinham aí os rápidos fortes.E foi o ver se te avias. O guia decidiu que eu ia na cauda. Era só ver o que ele fazia e ir atrás. Seguir os movimentos? Ir pelo mesmo caminho? Evitar as rochas? Oh meu amigo... tudo o que eu conseguia ver, nos intervalos em que não estava a levar com água na tromba eram as barbatanas da australiana que ia à minha frente. E quando elas saiam do campo de visão o que ali estava era um enorme calhau. Foi um sem fim de rebolões, mergulhos, caneladas em pedras, joelhadas em calhaos e "costadas" em rochas que o objectivo era mais tentar não ficar por ali. Nada de dramático. Não me magoei nenhuma vez. As rochas escorregadias e redondas e o fato acolchoado garantiam que dali não viria mal de maior. E estava a conseguir cumprir outra regra de ouro. Corpo mole. Bate na rocha e segue. E livrei-me do sermão. Podia estar em vias de me afogar, perto de estalar a espinha numa rocha qualquer que de cada vez que o guia se virava, de alguma maneira, lá estava eu na minha posição (entertanto terceira porque o israelita que sobrou também não era grande espingarda nisto).A última parte da descida foi fácil. Sem rochas, em rio fundo, era o cruzamento de dois rios que fazia a ondulação. Mais forte ali, já não deslizávamos na água. Agora era mais aos saltos. Mas foi a melhor parte.

E quando pensava que a aventura tinha acabado, continua. Agora em terra. Enquanto arrumava o material, assisto à seguinte conversa entre o guia e o resistente:

Guia - "Porque é que vocês são sempre assim?"

Resistente - "Como?"

G - "As pessoas quando vêm cá querem divertir-se. Vocês entram na minha agência e nem querem saber o que é que há para fazer. Dizem "Somos 10 e queremos desconto!". Eu para vender excursões a Israelitas tenho de começar por cobrar 3 vezes mais para ao fim de negociação chegar a um acordo ao preço normal. Isso cria mau ambiente..."

R - "Isso são os indianos nos estados unidos."

G - "Não me lixes!"

E eu tudo bem... O tipo tem razão no que disse, há que dizer. Não é o primeiro que ouço queixar-se. Mas eles também têm razões de queixa. Enfim... ninguém sai bem disto.
Regressados a Pucón, volto a experimentar a simpatia da gente do Backpacker's Hostel. Deixam-me guardar a minha tralha ali até apanhar o autocarro e deixam-me tomar banho e usar as instalações como se lá estivesse alojado.

Havia pouco tempo para fazer algo que ainda não tinha feito: conhecer Pucón. Por isso, depois de um almoço com as australianas era tempo de passear pela cidade enquanto esperava a hora do autocarro para Santiago. Mas antes disso, tempo para outra coisa: saber como correu o primeiro seminário da minha senhora doutora. Está do outro lado da banheira atlântica mas está comigo na mesma! (ena pá que belo momento de graxa!!).Pucón é a típica cidade parva dos filmes sobre vulcões. Sabem aquela cidade que no fim de um filme acaba totalmente destruida e nos dizemos "Também quem é o otário que se lembra de fundar uma cidade ali ao lado daquilo? Era de prever não?".

Mas a explicação é simples. É uma cidade que vive para o turismo. Cobram preços que até dói. É tudo casas de madeira... digamos que o investimento fica compensado ao fim de pouco tempo. E tendo em conta que a última erupção foi em 1984, já compensou e bem.
Pucón. A cidade imbecil. Ou não...
Ali trilhada entre um enorme cone de pedra fumegante e um lago enorme, Pucón é uma cidade para o turista. Bem arranjada, limpa, bonitinha, com as suas casinhas de madeira e os seus canteiros perfeitamente arranjados. Acho que é mais cutxi cutxi que Ushuaia até. Acabo a tarde com um pôr-do-sol fantástico sobre o lago, despedindo-me assim da cidade relâmpago. Foi chegar, ver e fazer. Não parei, fiz o mais que pude e vou-me embora com pena de não ter tempo nem dinheiro para ficar cá mais uns dias e explorar melhor o que por aqui se pode fazer.
O Quartel dos Bombeiros. Cutxi Cutxi q.b.
Ufa...


Recordar as aulas de ciências...

A montagem não está grande coisa. Mas que era giro, era!

A avenida principal. O'Higgins como mandam as regras das avenidas principais no Chile.

Chaminés de Pucón.


Tal como em Ushuaia, transformadores em cima de estruturas de madeira. A razão é lógica. Com gelo, lava, tremores de terra e afins, é conveniente as coisas estarem o mais acessíveis possível...



"...um pôr-do-sol fantástico sobre o lago."

Comprada a comida, feitas as despedidas no hostel e quase cego por um pau de incenso que alguém teve a infeliz ideia de espetar numa parede do hostel bem à altura da minha cara, foi altura de virar costas a Pucón. O destino de passagem era Santiago do Chile. É para lá que me dirijo com S. Pedro de Atacama no horizonte.

No mp3: Go - Pearl Jam (bom ritmo para ouvir a fazer Hidrospeed)

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

é a primeira vez que vejo neste blog a palavra, lá acordei sem grandes aventuras!! Eh-lá!!Tenho lido tudinho.....
cunhadinha

20/7/07 3:52 AM

 
Blogger Tu(g)areg Porteño said...

Dever ser dos poucos resistentes. lol.

20/7/07 12:14 PM

 

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