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O Império Contra-ataca. Primeiro o fim do mundo figurativo. Agora o fim do mundo literal. Não bem. Mas quase. Só um bocadinho mais a Norte.

Monday, July 30, 2007

Diz que fazem hoje três dias...

que passou um ano que parti para a Argélia. E tanta coisa se passou nestes 365 dias e 6 horas...

Estou de volta para finalmente acabar o raio do relato da viagem. O grave é que a partir deste momento não tenho as minhas cábulas pelo que o relato vai ter de ser todo feito com base naquilo que me lembro agora. Mas ainda está tudo bem vivo aqui, descansem.

Sunday, July 22, 2007

Faça uma pausa com alguma coisa.

Ora bem... confesso que falhei no meu objectivo. Hoje devia ter acabado o relato da viagem. Mas infelizmente os problemas técnicos do Blogger fazem com que cada post destes (cheios de imagem) sejam verdadeiramente uma odisseia de formatação. Por isso ainda faltam alguns dias de viagem para contar que não vão poder ser concluídos agora.

Sigo de férias uma semaninha (mas pera lá... eu já não estava de férias?) para Sesimbra. Assim que quando voltar termino o relato à velocidade que ia mantendo (temos de admitir que, tendo em conta a velocidade inicial, está fantástica).

Entretanto por falta de conexão para onde vou, devo também falhar o aniversário do Blog. É assim a vida. Mas prometo festejar com um belo mergulho na piscina (se o tempo deixar).

E de modos que então assim sendo, até daqui a uma semana.

Abreijos.

# Momento de Publicidade #

Faço uma pausa no relato da viagem para ajudar uma prima minha. E dizem vocês:

"E o que é que eu tenho a ver com isso?"

E responde eu: "Nada mas também não vos custa ajudar a tornar-me mais importante para a minha prima pois não?"

Assim sendo, vamos ao que interessa:

Tenho uma prima, na verdade tenho várias, mas só uma é que está a concorrer a um concurso de desenho de T-Shirts.

Para ajudar a ganhar basta clicar na imagem em baixo, registar-se no sítio da internet receber em poucos minutos a password no vosso e-mail, e votar!! Se assim o entenderem: atribuir o máximo de 10 pontos em cada um dos quatro critérios.

Desenho Mangacurta.com - Amar
Se não conseguirem, basta clicar no endereço abaixo:

http://www.mangacurta.com/desenhos/candidatura.2007-07-12.5864373166?movimento=fil

Vamos todos ajudar!!

Vá lá! Sejam simpáticos! E toca a dar os 10 pontos! Não por favor! Mas porque o trabalho merece! Vá... vamos lá. 1, 2..... 3!!!!

Dia 21 ::: 27-03-2007 ::: S. Pedro Atacama

Acordei certinho! Tem acontecido demasiadas vezes. Acho que estou a ficar doente. Mas há aqui uma explicação plausível. Acordei tão cedo que acho que nem tive tempo de mergulhar em sono profundo.

São 4 da manhã e é-me servido o pequeno-almoço que pedi na véspera. Um pão seco com queijo velho e um café com leite que não tive coragem de beber até meio. Paciência. Também não há tempo para mais porque a carrinha está aí. Começa a viagem de 2 horas até aos Geisers. E o que posso dizer desta viagem? Posso dizer que:

1- Não sei porque põe bancos na carrinha. Graças às crateras que são aquelas estradas, o tempo que passamos sentados no banco não justificam.

2- Obrigado ao senhor que decidiu não respeitar o aviso do guia e decidiu pôr uma mochila por cima do meu banco. Soube mesmo bem, depois de ter finalmente adormecido, acordar com um mochilão bem em cheio na tromba. Ah como eu gosto disso.

À chegada ao parque sou "acordado" (as aspas são porque não estava verdadeiramente a dormir, porque isso era impossível ali) pelo guia com as primeiras informações. E a primeira informação vem em forma de pergunta. "Porque é que estão aqui a estas horas?". Sim... essa era a pergunta que ia na mente de toda a gente. Porquê às 4 da manhã?? A resposta torna-se óbvia. Não é que os geisers so funcionem de madrugada. É que às 6 da manhã já há luz para os ver. E há outra questão. Enquanto o sol está baixo, as temperaturas são negativas. E isso permite ver melhor o vapor que sai dos Geisers. Tem lógica.

Quando saimos da carrinha olho à volta. O cenário é, no mínimo, estranho. Tudo árido, uma luminosidade que não deixa perceber as horas que são, um céu nublado, uma mistura de cores que varia entre o bege, o amarelo e o vermelho e aqui e ali do chão irrompem colunas de fumo. O parque está cheio. Todas as excursões aos geisers são feitas a esta hora.





As horas que se seguem são passadas a caminhar entre os geisers. Há grandes, pequenos, enormes e médios. Uns de actividade constante (na verdade não são geisers mas sim fumarolas) e há outros que param actividade por alguns minutos para logo irromperem rumo ao céu. Passo a explicar o funcionamento da coisa.

Por baixo do solo, há bolsas de água. A próximidade de lava aquece essa água a uma temperatura acima dos 100 graus. Depois, ser geiser ou fumarola depende do tipo de bolsa. Umas prendem a água. Ou seja, durante algum tempo não há libertação de vapor ou de água. O aquecimento da água começa a fazer aumentar a pressão dentro da bolsa até que se torna insustentável e a água rompe até a supreficie. Mais ou menos como se trilhassem uma mangueira até ela inchar e depois a largassem. Quando a pressão é equilibrada, o geiser para. Mas só até voltar a acumular a pressão necessária para rebentar de novo. Outros, pela abertura estáo em permanente funcionamento. São mais pequenos e são mais água borbulhante do que vapor. São as fumarolas. Tá percebido? Prontes então.


Geiser.

Fumarola.

Naquele ali deve-se ter viajado mais confortável...


Olhó Geisere!!!

Diz que a terra tá a pegar fogo.

As cores do enxofre.

Onde há fumo...

... nem sempre há fogo. (pelo menos à superfície)

Confesso que andar sobre um chão frágil (as instruções para não caminharmos junto aos geisers e fumarolas são constantes) que encobre uma enorme panela de água a ferver não é agradável. Aquele piso é, em muitas zonas, frágil e é preciso ter atenção a onde se está a pôr os pés porque podemos pisar uma zona sensível e o chão pode ceder. E o resultado de mergulhar ali não deve ser muito agradável. Que o digam os vários turistas que já ali morreram cozidos por não respeitarem as regras.

Um ex-geiser. É incrivel como aqui a terra parece ter veias como se de um corpo se tratasse.

E aqui parecem bolhas de queimadura.

E uma ferida aberta.

Do you really wanna know what's under this?

Tomámos um pequeno almoço simpático. Leite aquecido nas fumarolas e umas bolachinhas. A pressão sente-se aqui pelo que não é aconselhável fumar ou correr. Tem de ser feito tudo com relativa lentidão. E isso havia de me custar mais uma série de fotografias. Isto porque estou a caminhar pacificamente quando ouço ao longe: "Hey Ronaldo!!!". Sim... eram as miúdas da véspera. E pior, trouxeram as amigas. As dezenas de amigas. Era uma excursão escolar. E pronto. Fui obrigado a uma sessão com todas, individuais, com geiser, sem geiser, com fumarola, sem fumarola... enfim... Não podia correr porque não era aconselhável, de maneiras que fui apanhado. E não podia recusar. Um gajo tem de agradar aos fãs (mas não tirei nenhuma foto para mim).

Nada na manga? (efeitos especiais fabulosos!!)

Já na parte final, visita ao grande geiser. Na verdade eram geisers diferentes que pela erosão do solo se fundiram e se tornaram num só. Ali uma placa lembrava que deviamos seguir os carreiros indicados pelas pedras. Senão podiamos sempre ir tomar banho com os restos de turistas que ali cairam já. E não me pareceu agradável a ideia.

Ei-lo ao longe.

Vai um banho maria?

A última paragem no geiser era opcional. À nossa frente estava uma piscina de água naturalmente aquecida. Quem quisesse que lá fosse. Ora como quando eu pago quero tudo aquilo a que tenho direito não me fiz rogado. E lá fui eu. Mas aquilo é um bocado enganador. A temperatura (naquela altura uns 5 ou 6 graus) não era convidativa mas a ideia de água quente sempre atrai. O problema é que meia volta o esquentador desligava-se. Passo a explicar. Aquela piscina natural não é mais do que a acumulação de água de alguns geisers. Quer isto dizer que ora é gelada ora é escaldante consoante o geiser está ou não a funcionar ali ao lado. De maneiras que os sons que se ouviam eram qualquer coisa como: "frio! frio! frio!!!! QUENTE!!!! QUENTE!!!! QUENTE!!!! aaaaah que booooo FRIO!! FRIO!! FRIO!!! AAH QUENTE!!!! QUENTE!!! QUENTE!!!!" De maneiras que o banho não durou muito.

"Frio!! Frio!! Frio!!! QUENTE!! QUENTE!! QUENTE!! Ah tá bom! Foto agora!!!" *Click*


Segue-se mais um vídeo "simpaticamente" cedido por alguem via You Tube. Obrigado Deus por esta invenção!! Aproveito para explicar que os cones que se vêem à volta de alguns geisers são provocados pela actividade dos mesmos. Às vezes parecem mini vulcões de água. É um fenómeno de certa forma parecido com as estalactites e estalagmites. Então cá vai:


Foi hora de regressar. Mas a volta teria algumas paragens. Pelo meio do deserto de atacama, vi um mar de absolutamente nada. Enormes planaltos rodeados de montanhas. Algumas delas vulcões já extintos. Aqui e ali um Guanaco, um Llama. Até que fazemos a primeira paragem. Um conjunto de Llamas pasta ali mesmo ao lado. Alguns têm uns panos coloridos a enfeitar e outros não. É a diferença entre os domesticados e os nem por isso. São uns animais pachorrentes, simpáticos mas pouco dados. Não admitem aproximações e conhecendo eu o hábito de cuspirem em quem os irrita também não forcei muito a aproximação.

Deserto de Atacama.

Dois Llamitas domesticados. Mais atrás um nem por isso.

Mais adiante, nova paragem. Estamos agora junto a uma pequena aldeola. Não percebo. 10 casas, das quais um café para turistas e... uma igreja. Claro. Não podia faltar. Faz-me impressão como é que aquela gente vive ali. Cria os seus Llamas, no meio do nada. Do absolutamente nada. Não são mais de 10 pessoas. Vivem ali a vida toda. Não conhecem nada. Não sabem nada do mundo. Estão desligados de tudo o que saia daqueles poucos metros quadrados. E vivem felizes assim. Não entendo como. Não percebo como. Mas eles são felizes assim. E eu tudo bem. E ainda bem que ali estavam porque graças a isso pude provar a iguaria da viagem: Llama. Uma bela espetada de Llama. E não era má. Tipo porco, um pouco mais doce e mais gordurosa. Mas era boa. Ou então era da fome. Não sei...


Aí está ela. Sobre a cidade. Para vigiar os seus fiéis.

A cara de sofrimento é porque está quente e não pelo sabor.

Mais uma arrancada, mais uma paragem. São os primeiros cactos da minha viagem. São enormes, fantásticos, lindos. Iguais aos dos filmes de cowboys que vemos na televisão. Por momentos fui transportado para o ambiente Sancho Pança e Bonanza (lembram-se?). O cenário é igual. Deserto absoluto. Pedras por todo o lado, areia e terra. Alguma vegetação rasteira deprimente e os enormes cactos a vigiar as redondezas. Foi um momento da viagem.

Pança. Sancho Pança.

É capaz de picar um bocadinho.

A chegada a S. Pedro de Atacama faz-se às 14h. Combinado um jantar com alguns dos elementos da excursão, combino com o Miguel um almoço tardio. Era altura de descansar. E assim fiz. Directo ao meu quarto onde um sono retemperador me esperava. O corpo dormido da viagem aos saltos, a cabeça trocada pelas poucas horas dormidas e pelo enxofre respirado da manhã, a mente a pedir descanso para aproveitar o resto do último dia em S. Pedro. Deito-me na cama. Estico o corpo. E levanto a almofada para a ajeitar melhor. E acabou-se o sono. Assim que levanto a almofada um "simpático" rato sai disparado de lá. Ainda me faz uma festa na mão pelo caminho. E acho que foi o ponto alto de toda a viagem a nível de palavrões. Há que definir prioridades. Decisões não há. Já está imediatamente tomada. Ali não fico nem mais um minuto. Fecho a minha mochila bem fechada (estava no chão) e chamo o empregado. E digo eu:

Eu - "Oh amigo! Estava um rato debaixo da minha almofada!"

Ele - "Um gato?!?! E tens medo?!"

Eu - "Um gato?! Não é um gato! É um rato!!!"

Ele - "Pronto eu tiro-te o gato!"

Eu - "Não é um gato!!! É um RATO!!! Um roedor!!!"

Ele - "Um Raton?!?!?!"

Eu - "Isso pá! Um Raton!!"

Ele - "No!!!"

Eu - "Si!!!"

Ele - "No!!!"

Eu - "Si!!!"

Ele - "No creo!!!"

Eu - "Ai não? Então olha!!! (levanto a almofada) Mierda de Raton!!! Parece que não só estava como já estava há algum tempo!!!"

E pronto. Toca de pegar nas coisas, pagar o que tinha a pagar e bazar. Ia pro hostel do miguel. Não estava à espera de muito melhor. Mas ali não ficava de certeza! Saí cá para fora e logo escuto ao longe: "Hey Ronaldo!!". Ainda estive um momento indeciso. Acho que preferia voltar para o rato do que ter de as aturar ali outra vez. Mas felizmente desta vez limitaram-se a acenar ao longe. De maneiras que pés a caminho. New hostel, new life.
Quarto alugado, decidi passar vistoria. Assim que fecho a porta noto uma enorme frincha por baixo da porta. Havia ali rato de certeza! Não havia. Mas só descansei quando arrastei tudo o que havia para arrastar naquele quarto e vi todas as gavetas e debaixo de todas as almofadas (não, brincas). Além do mais, arrastei a minha cama para o meio do quarto para não estar em contacto com nada. Uma espécie de uma ilha. E calaftei a porta com uma tshirt. Não havia de entrar nenhum sacana de nenhum rato. Felizmente ninguém mais foi para aquele quarto. Ainda seria humilhante o tipo de figura que estava a fazer.

Com as emoções do Mickey, ficou condenada a soneca e a excursão de sandboard que estava a pensar fazer à tarde. Fiquei ali pelo hostel com um jardim muito porreiro cheio de camas brasileiras e bancos simpáticos. Aproveitei para pôr a escrita em dia até o Miguel acordar e irmos para o restaurante. O jantar, animado, serviu também para conhecer 3 companheiros na viagem de amanha. Ginger, Helena, Fiona e Mick. Irlandeses, simpáticos, animados. Boa companhia para amanhã. À mesa estavam também três americanas conversadoras e anti-bush. Foi portanto uma noite de boa companhia e animação. À qual se juntaria mais tarde o Zorro. Até teria tirado uma foto com ele. Não fosse ser paga e bem paga.

Jantar animado.

E tudo estava bem. Até que saí do restaurante. E aí estão elas! Mais um "Hey Ronaldo!!!!" e mais umas fotos. À segurança confirmei que não seguiam para Uyuni. Thank God. Era a despedida das fãs. E de S. Pedro de Atacama também.

Friday, July 20, 2007

Dia 20 ::: 26-03-2007 ::: S. Pedro Atacama

Acordo meio perdido. Não sei bem onde estou, para onde estou a ir nem que horas são. Ainda demoro alguns segundos a fazer o filme todo. Olho para a esquerda. Areia, céu, nuvens, nada. Olho para a direita. Não é diferente. É. Estou em pleno Deserto de Atacama. Devem faltar umas 2h30 para chegar a S. Pedro.

À esquerda, areia, céu, nuvens e nada.

À direita não é diferente. É parece o deserto de Atacama.

Depois do pequeno almoço fazemos uma paragem rápida. A cena de falar não falar com o outro rapaz e repete-se e trocamos apenas algumas palavras em espanhol. Não sei porquê havia qualquer coisa no tipo que me chamava a atenção. Havia de perceber mais tarde.

Mais 2 horas de viagem e chego a S. Pedro. Há um hostel da Hostelling Internacional pelo que as dúvidas quanto a alojamento não são grandes. O problema é que não tenho mapa. Mais uma vez vejo o tal rapaz. Tem um guia da Lonely Planet, conhecido por ter mapas práticos de cada cidade. Peço-lhe ajuda e ele responde que vai para o mesmo cruzamento que eu. E aí começa a conversa. Até que algum tempo depois de já estarmos a falar, faz-se a pergunta típica:

Eu - De onde és?

Ele - Bélgica. E tu?

Eu - Portugal.

Ele - Não és nada!!

Eu - Não sou nada? Sou sou!!

Ele - Eu também! Vivo em bruxelas mas sou português!

Eu - Ena! O primeiro português com quem falo na viagem!!

Ele - A sério?!

Eu - Se calhar falavamos em português não?

Ele - Pois.

E foi assim que conheci o Miguel. Alentejano de gema (até no sotaque) é emigrante em Bruxelas já há muito tempo. Boas notícias para mim. Tinha boa companhia para aqueles dias. E foi então que percebi porque é que o rapaz me chamava a atenção. Talvez tenha sido da camisola vermelha e verde a dizer Portugal. Não tenho bem a certeza. Mas é capaz!

Começamos a caminhar por S. Pedro. Ruas de terra batida, casas térreas ou de 2 pisos no máximo, nuvens de areia a voar pelas ruas... enfim... a cidade de zorro. Muito engraçada pelo cenário algo irreal que se vive ali. Posso dizer que talvez este fosse o tipo de cidade por mim estereotipada para a América do Sul. A cidade é feita de hostels, restaurantes, agências de turismo e pouco mais. Muito pouco mais. Na verdade havia de descobrir a falta de recursos da pior maneira mais tarde.




Cada um devidamente instalado no seu hostel, foi hora de irmos almoçar. Antes de sair do quarto tomei uma decisão que iria influenciar e muito a minha estadia por ali: vesti a camisola do Cristiano Ronaldo. O almoço foi tranquilo. Na praça central de S Pedro, simples, com um largo e edifícios normais a toda a volta. Não há nada de especial nesta cidade e no entanto o conjunto geral é interessantissimo. Foi também aqui que conhecemos um outro português. Algarvio, estava por ali com a sua mulher (que conheceriamos mais tarde). Filosofia de vida: trabalhar no verão em Portugal para viajar no Inverno. Pode discordar-se da filosofia mas não se pode deixar de admirar o espírito. E por ali ficámos a falar sobre o que já tinhamos visto. E senti-me tão pequenino... Eles já tinham andado por todo o lado. O Miguel em particular já tinha andado pela Ásia e estava agora na América do Sul, num total (penso) de nove meses. E eu a achar que estava a fazer uma grande coisa...

A trupe portuguesa de S. Pedro de Atacama.

Depois de almoço foi hora de marcar as excursões. Havia duas decididas. A primeira seriam os Geisers aqui perto e a outra seria a excursão de 3 dias por Uyuni de onde regressaria à Argentina.

Entro na agência de viagens recomendada pelo guia para fazer a excursão aos Geisers. Está cheio. Não há hipotese. O Miguel já tinha bilhete mas para mim não há. E como por milagre, naquele momento decide-se aumentar para dois autocarros. Melhor para mim. Está tudo acertado. Vou no dia seguinte com o Miguel (e o casal de portugueses) aos Geisers e a saída está marcada para as 4 da manhã. Depois há que dar o segundo passo. Vou então à outra agência recomendada pelo guia para o tour a Uyuni e reservo a excursão para daí a dois dias. Não regressava a S. Pedro porque optei por seguir de Uyuni para Salta, de volta à Argentina.

Excursões reservadas (e negociações e esclarecimentos e tudo e mais alguma coisa), era tempo para ir levantar dinheiro para as pagar. Só havia um Multibanco com Visa na cidade. E... pois. Já adivinharam. Estava avariado. Parece que iam lá às 16h da tarde. Às 16h talvez fossem às 17h. Às 17h se calhar vinham às 18h mas o mais provável era não virem hoje já. Às 18h30 finalmente é tempo de conseguir levantar dinheiro e pagar as excursões que tinha de pagar. Pelo meio ia passando o tempo na internet. É no momento que estou a pagar a excursão aos Geisers que a aventura começa. O Miguel estava lá fora à minha espera e noto uma estranha agitação. Estão três miúdas dos seus 16 anos a falar com ele de forma estranhamente animada. O meu amigo alentejano entra e diz-me: "Elas querem tirar uma foto contigo. Por causa da camisola.". E eu... pronto tudo bem. Que esperem um bocadinho que eu já saio. Mas não. Uma foto tirada da porta basta para elas. Não é preciso mais nada. Então força, disse eu.

Restaurantes com muito boa onda.

De volta ao Hostel, reencontro-me mais tarde com o Miguel para jantar. Cedo porque já não vamos dormir muito. Aqui não é difícil encontrar um restaurante com pinta. São quase todos ao ar livre com fogueiras (porque à noite faz frio e não é pouco). Uma bela pizza depois estou de volta ao hostel. Pelo caminho ouço um "Hey Ronaldo!!!" atrás de mim. São as jovens de hoje à tarde que aproveitam para me tirar mais umas fotos. Ai vida a minha... Felizmente cheguei rapidamente ao hostel e fui directo ao quarto onde, após curta conversa com os companheiros de noite, caio num sono profundo.



No mp3: Hotel California - The Eagles ("on a dark desert highway" parece-me apropriado à viagem).

Dia 19 ::: 26-03-2007 ::: Santiago de Chile e viagem para S Pedro Atacama

Curto. Vai ser assim este post. Afinal, de um dia cuja maioria foi preenchida com mais uma viagem de autocarro acho que não há muito para dizer.

Com poucas horas antes do autocarro, aproveitei o pouco tempo que tinha para explorar melhor o centro de Santiago, coisa que ainda não tinha feito. Andei pelas ruas, senti-lhe ao de leve o pulso. Caminhei sem grande lógica pelas ruas. Não ia ter tempo para passar em todos os pontos obrigatórios (para recuperar algumas das fotos perdidas na máquina roubada) por isso decidi caminhar ao acaso e ver o que encontrava.







Obrigado pela foto senhor polícia chileno muito simpático.


A partida para S. Pedro de Atacama fez-se ao meio dia. Até às 10h da manha do dia seguinte aquela seria a minha casa. Entre dormitar ia acordando e recordo perfeitamente o aparecer do Oceano Pacífico (não o da RFM. O outro, mesmo) e os primeiros cactos do deserto de Atacama (o mais alto deserto do mundo). Lembro-me também de uma estação de serviço ali largada ao acaso na berma da estrada e pouco mais.


Não o da RFM. O outro.

Um estranho fenómeno de sol e chuva no mar. Será Deus? Parece...

O resto foi dormir e ver alguns filmes. Entre eles, pela segunda e terceira vez, sim deu duas vezes o filme na viagem, o Fast and Furious - Tokyo Drift. Lembro-me que numa das paragens fiquei a olhar para um rapaz que também olhava para mim. Fiquei ali no vai não vai para ir falar com ele e acho que ele também mas acabei por decidir ficar sossegado e dormir e acho que ele fez o mesmo. E assim foi... horas e horas a dormir que olhar lá para fora e só ver tudo escuro também não tem grande piada. Acho que começo a ficar perfeitamente acostumado a estas viagens no espaço e no tempo.



No mp3: Grey Street - Dave Matthews Band (porque estamos numa cidade a sério)

Dia 18 ::: 25-03-2007 ::: Santiago de Chile

Chegada a Santiago: 06:50. Num termina que já me era familiar, tento equacionar as hipóteses que tenho para chegar a casa do Jorge. Taxi ou metro? Acabo por me decidir pelo primeiro. A palavra certa para definir a intensidade da minha vontade de chegar a casa do Jorge era "Desespero". Ao meu lado e atrás de mim, como companhia na viagem, tive nada mais nada menos do que os dois membros fundadores do clube mundiar de ressonadores pofissionais. Resultado... não dormir e nem com o mp3 no máximo a ouvir as músicas mais pesadas conseguia abafar totalmente o ruído.

Um taxista oferece-se para me levar por um preço especial. Como da outra vez que cá estive não me lembro de ter pago um preço tão elevado que justificasse desconto desconfio. Acabo por despachar o homem até porque ainda tinha de me despedir das australianas. Depois dos bye bye's lá me meti na fila de taxis oficiais. E, como dizer, não sei se o outro tipo me ia roubar ou não. Este roubou de certeza. Deve ter dado 3 voltas a Santiago do Chile. E foi de tal maneira descarado que quando chegámos me recusei a pagar o que o taxímetro marcava e então estivemos em negociações. Ainda assim ficou a ganhar... E nem podia dizer "sacana do chileno" porque o tipo era um argentino que tinha ido para ali tentar a sua sorte.

Chegado a casa do Jorge, tempo de dormir. Dormir a sério. Acordei às 14h. Mas não fiquei nem um pouco chateado. Já conhecia Santiago do Chile por isso não tinha nada específico para fazer. Passada a tarde a pôr a conversa com o Jorge em dia e a mostrar-lhe as fotos, foi por volta das 17h30 que segui em direcção ao centro para comprar o meu bilhete para S. Pedro de Atacama.

Voltar a Santiago foi como voltar à vida real ainda que só por um par de dias. De volta à confusão, às vidas normais de trabalho-casa, sem turistas, ruas cheias de gente de gestos automatizados. Foi também estranho porque já não era aquela cidade extremamente calma que de um segundo para o outro explode em confrontos na rua como a conheci (lembrem-se que a outra vez que cá vim foi o fim-de-semana que o Pinochet escolheu para passar a barreira). Tinha saído de um completo convívio com a natureza para mergulhar no betão do homem, de uma cidade comum, movimentada, de gentes ocupadas e pouco atentas ao mundo que têm à sua volta. A zona junto ao terminal é um amontoado de tendas e bancas que vendem de tudo sem ordem aparente. Ao lado das toalhas de praia está a carne, depois as pipocas e logo a seguir peças de automóvel. Por uns momentos fui transportado para Argel.


Ants Marching
Comprado o bilhete, recebo a fantástica notícia de que a viagem demora cerca de... 20 horas. É verdade. Tá bem que não eram 32 mas era praticamente um dia. A partida estava marcada para o dia seguinte ao final da manhã.

Jantar, Irish e muita conversa agora já na companhia do Fernando, outro português contacto que chegou recentemente.

Antes ainda de ir dormir, vai de gravar uns dvd's com as fotos. Quando as mostrei ao Jorge tomei contacto com a dura realidade: algumas das fotos estavam danificadas porque os cd's já não estavam no melhor estado. Vai daí, toca a prevenir. É que, a esta altura do campeonato, ficar sem fotos não era coisa simpática...

Três pessoas, três países. E só uma nacionalidade nos Bilhetes de Identidade.
Não foi um dia particularmente interessante para postar, eu sei. Mas quem me pediu para fazer um diário? Agora que sentido fazia estar a excluir um dia no meio de todo o relato? Paciências. Pelo menos livram-se dos textos bíblicos. E aviso que amanhã não vai ser muito diferente.

Plano para amanhã, acordar cedo, sair com tudo, passear no centro e... pronto... ir sentado horas a fio.

Fica aqui também um agradecimento à simpatia e hospitalidade com que Jorge e Fernando me receberam. Jorge foi bom rever-te e saber que estás para (pelo menos tentar) ficar. Espero que tenhas toda a sorte do mundo nisso.

No mp3: Ants Marching - Dave Matthews Band ("And all the little ants are marching, red and black antennas waving. They all do it the same, they all do it the same way").