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O Império Contra-ataca. Primeiro o fim do mundo figurativo. Agora o fim do mundo literal. Não bem. Mas quase. Só um bocadinho mais a Norte.

Wednesday, May 23, 2007

Parece que o próximo é que vai ser giro.

Prometo que os próximos capítulos serão mais interessantes.

Não prometo que seja amanhã. (mas vou tentar)

Prometo rejubilar quando o blogspot corrigir os bugs que me obrigam a editar 32 vezes cada post para as imagens ficarem como eu quero.

Dia 6 ::: 13-03-2007 ::: Puerto Natales

Acordei tarde. Demasiado tarde para conhecer qualquer coisa mais da cidade. O pouco tempo que me restava foi gasto a fazer compras básicas (comida e bebida) porque já vinha avisado que em Puerto Natales as coisas eram mais caras e que em Torres del Paine eram para esquecer. Também deu para descansar a fome com uma sopa típica do México preparada pela mãe do Horácio. Não sei bem o que aquilo era. Era uma espécie de caldo com todo o tipo de legumes inteiros e almôndegas atirados lá para dentro. Era uma delícia. E a minha primeira sopa desde que saí de Portugal. A acompanhar, meio episódio de Dr. House, um dos que já tinha visto, que constituiu um agradável regresso à civilização.

Tempo de partir. Despedidas feitas meti-me no autocarro. Acho que nem cinco minutos passaram até adormecer. E ainda bem… A viagem ainda era longa. Qualquer coisa como seis horas.

Quando cheguei a Puerto Natales começou a bater a nostalgia. O grupo de Ushuaia estava oficialmente desfeito. E se eu inicialmente tinha a ideia de viajar sozinho como ideal, naquela altura já não me importava nada de me fazer acompanhar por aqueles que conheci no fim do mundo.

A juntar a isso, Puerto Natales é uma cidade com pouco ou nada para ver. Tirando a marginal, toda a cidade são edifícios baixos e compridos (daqueles que imaginamos na América do Sul) em que invariavelmente, cada porta era ou uma agência de viagens ou uma loja de venda e aluguer de material para Trekking. Puerto Natales existe apenas para dar apoio aos turistas que se dirigem a Torres del Paine. Se não for isso, disfarça muito bem.


A dita baía.
E a dita baía outra vez.

Feitas as apresentações à cidade, foi tempo de regressar ao hostel e marcar a excursão. Sairia na manhã seguinte rumo a Torres del Paine onde ficaria uma noite de de onde seguiria de volta para a Argentina rumo a El Calafate.

O jantar foi pizza na companhia de uma canadiana que apesar de simpática não era por aí além como companhia.

De maneiras que a disposição (e o facto de acordar cedo no dia seguinte) convidavam a ir de encontro tão rápido quanto possível com a cama que me estava reservada no hostel.

No mp3: Alone – Ben Harper

Dia 5 ::: 12-03-2007 ::: Punta Arenas

O dia começa stressado. Algures entre o susto que apanha com o toque do despertador que lhe emprestei (sim porque eu de certeza não ia acordar) e não saber funcionar com ele, a Corinna muda-lhe a hora, volta a adormecer e acorda às 7:30. Com meia hora para deixar o hostel, as coisas são agarradas à pressa. Claro que alguma coisa tinha de ficar para trás. Ficou o despertador. Naquele dia tocou pela última vez. Pelo menos para mim. A correr para o táxi que já nos esperava a frase da manhã foi “Bad German!!! Typical Portuguese!!!”. Mas enfim... chegámos a tempo e a palavra de ordem foi dormir. A primeira paragem era daí a 4 horas, na fronteira, e nós não tivemos tempo para nada que se assemelhasse a um pequeno almoço.
Estava iniciada a minha primeira viagem de autocarro.

Na fronteira as coisas processaram-se sem problemas. Por causa do que tinha ouvido de passar fronteiras entre Chile e Argentina, considerei-me uma pessoa de sorte. Os cartazes espalhados por todas as paredes com pessoas desaparecidas é que não eram lá muito simpáticos. Comida qualquer coisa siga a viagem que ainda falta um bom bocado para chegarmos ao destino.

Há tanta Madeleine no mundo que não tem a mesma exposição...

Pelo meio, um fenómeno estranho. Do nada, mas do nada mesmo, a estrada acaba. Desemboca num rio (no caso mar) e para lá disso nem uma ponte nem nada. A resposta chegou depois. Uma espécie de plataforma gigante de aço fazia as vezes de um ferry-boat que nos havia de levar até ao outro lado entre ovelhas e camiões.

Não há "Em frente", não há "Esquerda" nem há "Direita". É pra onde?

A travessia foi um pouco atribulada. Afinal, estavamos a atravessar o famoso Estreito de Magallanes (que é como quem diz Magalhães mas não há quem convença estes tipos que Fernão de Magalhães era português) que é mais conhecido por ter sido o primeiro ponto através do qual os barcos passavam do Atlântico para o Pacífico, muito antes do Canal do Panamá.

Segundo me disseram, não sei se é verdade ou não, um dos oceanos está mais alto que o outro e isso provoca uma turbulência forte no estreito. De tal maneira que para fazer uma linha recta, o barco fez um trajecto tipo semi-circunferência de raio 20.000 qualquer coisa.

O tal estreito. Aqui vi um primo dos Golfinhos que se distingue destes pelo facto de ser todo branco. Aliás, nesta viagem fartei-me de ver primos de animais famosos...

O que faltava da viagem já não era muito. Mais uma horita e chegámos a Punta Arenas. Foram quase 12 horas de viagem mas passaram relativamente bem. À chegada a Punta Arenas a Corinna dá-me a agradável notícia de que não teria de procurar hostel. Já tinha falado com o amigo dela e eu podia passar a noite em casa dele. Depois de pousadas as coisas, tempo para uma volta curta pela cidade. Não deu para conhecer muito porque já estava a anoitecer e no dia seguinte a saída era cedo para Puerto Natales. Mas deu para entender que é uma cidade grande mas calma, que teve grande importância por ser a cidade de abrigo dos barcos que atravessavam o estreito. Os edifícios, na sua maioria sul americanos destoam dos grandes palacetes aí construídos por ingleses e alemães que anos antes ali enriqueceram com a criação de ovelhas e do seu chamado “ouro branco”: a lã.

Um palacete visto da janela de casa do Horácio.

Jantámos sozinhos num restaurante. Aproveitei para matar as saudades de peixe, que raramente comi na Argentina. Nada como a famosa pescada chilena para iniciar a estadia no Chile. A noite foi dividida em duas: uma primeira parte em casa à conversa com Horácio (amigo da Corinna) e o seu pai. Só aí é que percebi que são Mexicanos. O rapaz é que está ali em trabalho. A segunda parte da noite foi passada num bar de salsa. Foi talvez o primeiro momento em que me senti verdadeiramente na América do Sul. Longe da europeia Buenos Aires e dos circuitos turisticos, estava agora num ambiente bem mais típico, bem regado de Pisco Sour, um licor típico do Chile feito à base da bebida tradicional deles: o Pisco.

Num bar de Salsa onde toda a gente dança eu fiz o que me competia. Fiquei sentadinho e quietinho. Às vezes batia o pé. Mas foi o máximo a que me arrisquei.


Depois... descansar. Amanha é mais uma viagem!

No mp3: Where is my mind – Pixies

Sunday, May 06, 2007

Dia 4 ::: 11-03-2007 ::: Ushuaia

O último dia em Ushuaia foi bastante tranquilo (e, vá lá, desinteressante para relatar). Mas como não era suposto ainda estar lá, o facto de não ter feito grande coisa no dia não me fez ficar com a sensação de que perdi tempo. Além disso, descansar é quase tão importante como tudo o resto. Pelo menos é o que dizem os sábios. E a minha mãe também quando me apanha a pé depois das 3 da manhã. Posta esta justificação acho que já preparei terreno para informar os meus caros leitores que neste quarto dia de viagem acordei já passava da 1 da tarde. Foi o resultado de 3 dias cheios e três noites mal dormidas.

Por outro lado, havia que impor certos limites financeiros (ao que isso me iria obrigar mais tarde...) e por isso havia ficado decretado por mim e por mim também que não iria embarcar em nenhuma aventura que envolvesse elevadas somas de divisa. Assim, a tarde foi ocupada com uma espécie de pequeno almoço reforçado e uma visita ao museu da prisão de Ushuaia.

Chegados à entrada do museu resolvemos observar preços. Parece que havia preço especial para estudante pelo que eu era o único que estava tramado. Ora a ver... Argentinos pagavam 10 pesos, cidadãos da Mercosul pagavam 18 pesos e o resto do mundo (que ainda é coisa para ser grandota pagava 30 pesos). Foi então que quase sem querer me saiu da boca em direcção aos ouvidos da senhora da bilheteira a seguinte frase (dita em espanhol):

Eu - "Ah e tal... eu sou brasileiro mas não tenho aqui nenhum documento comigo que o comprove!"

Ela - "Então mas nem um cartão com nome e fotografia?"

O caldo já estava entornado e já por isso deixei seguir a história.

Eu - "Não... deixo tudo no hostel para não perder."

Ela - "Hummm então deixa cá ver... hummm uma coisa que só um brasileiro soubesse... Qual é a capital do Brasil?"

Eu - "Brasilia??"

Ela (enquanto aprovava a resposta com um acento de cabeça para a colega) - "Ah! É brasileiro sim senhor. Pode passar!

É verdade meus amigos... temos aqui o terceiro momento tuga... E o mais giro é que nunca pensei que fazer-me passar por brasileiro me fosse trazer proveitos alguma vez na vida (toma lá Ricardo que é para não andares aí sempre a fazer pouco do português).

O museu em si não tem grande interesse. É um amontoado de assuntos e de histórias aparentemente sem nexo. Entramos numa cela temos a história de um prisioneiro. Na outra temos uma expedição à Antarctida, na outra temos umas estatuas que reproduzem um grupo de exploradores e na do fundo temos uma maquete do subsolo de Ushuaia e por aí em diante. Sem fio condutor nenhum (a não ser aquele que era usado na tortura dos presos).

O interessante é a história da prisão em si que de resto fomos sabendo por portas travessas. Para aqui, geralmente, só eram enviadas as pessoas que vinham morrer aqui. A primeira prisão era minúscula e a ilha tinha basicamente isso. Com o tempo, os presos construiram a sua própria prisão e também a cidade que havia de dar lugar ao que hoje é Ushuaia. Antes de existir a cidade, a única coisa que aqui havia eram os presos e os polícias. A única forma de sair de Ushuaia era um barco que vinha 1 vez não por dia, não por semana nem por mês e muito menos por semestre. Por ano! Um barco por ano! A prisão não tinha muros à volta. A razão era óbvia. Quem fugisse, por muito que aguentasse, a única coisa que encontrava era a morte. Ou o Paulo Portas. E por mais que encontrar o Portas em Ushuaia fosse uma hipótese diminuta, nenhum preso quis arriscar. Até ao dia em que um arriscou. Teve sorte. Morreu.
Diz também que esteve lá preso o famoso Carlos Gardel. Parece que por delitos menores. Parece-me bem... e ajustado também.

Os presos com maior influência e poder ficavam nas celas junto à caldeira. Parece que era um luxo. Eu não percebo bem a diferença de sobreviver com -20 graus ou com -30 mas parece que há.

O resto da visita foi mais passado a brincar com os bonecos espalhados pela prisão do que outra coisa. Para o final estava reservado o original Trem do fim do mundo. O comboio que levava os presos para aquilo que é hoje o Parque Nacional da Tierra del Fuego para que fossem trabalhar. Recolher madeira para a prisão e para a cidade.







O resto da tarde foi passado pelo centro da cidade. Preparar tudo (mochila, cabeça e logística) para a partida era o mais importante. Pelo meio, foi ao ar o jantar prometido pelos italianos e acabei num chinês (sim meus amigos já cá chegaram) a comer num tenedor libre (tipo come o que queres por 25 pesos), eu sei que não liga muito com chinês mas enfim... foi o que se arranjou. Acabei a noite num Irish com a Corinna e com dois cataláes que estão com 6 meses para fazer a américa do sul à boleia. Boa ideia para a carteira... possivelmente má ideia para a saúde. Digo eu... mas não sei...

Começar pelo fim

Começar em Ushuaia foi um pouco começar pelo fim. Até porque era aqui que queria terminar a minha viagem. Mas se comecei pelo fim comecei muito bem. Ushuaia foi o lugar ideal para desligar do andamento de Buenos Aires. Relaxar e preparar-me para o que vinha aí. Foi uma óptima experiência para começar a aventura de mochileiro e foi bem importante para as fases menos animadas da viagem porque me ia lembrando do quanto me diverti lá e que talvez na próxima cidade tivesse uma experiência semelhante. Ushuaia é muito mais que o Fim do Mundo como eu pensava. Tem imensa coisa para ver e houvesse tempo e dinheiro e ficava cá uma semana e não morria de tédio. O que fica por fazer fica para uma outra oportunidade. Espero eu.


E agora... fotos soltas:

No mp3: Break on through (to the other side) - The Doors.

Wednesday, May 02, 2007

Só para lembrar

Fez ontem, dia 2, um ano que entrei na EFACEC para começar o meu estágio. Passada uma primavera sobre esse acontecimento, devo dizer que a vida pode dar muitas voltas em tão "pouco" tempo. E eu também.

P.S.- Amanhã não percam!! O último dia em Ushuaia. Não é particularmente interessante mas inclui o Momento Tuga #3. Essa espécie de tesourinho deprimente deste blog.

Dia 3 ::: 10-03-2007 ::: Ushuaia

Esta manhã o Hostel acordou mais vazio. Ou pelo menos estava mais vazio quando eu acordei. Acho que assim estará mais correcto. Digo mais vazio porque o Esteban, companheiro dos últimos dias já não estava. A sua aventura patagónica tinha chegado ao fim, infelizmente para ele. E para nós também.

Começa o dia às 10h. Não era suposto ser tão tarde mas também não faz mal. O programa hoje era mais relaxado. A manhã estava reservada basicamente para duas coisas: sacar as fotos para um cd (feito facilmente) e comprar a minha saída de Ushuaia. Por falta de boleia, a ideia de seguir de veleiro até Puerto Williams e daí seguir para Punta Arenas no cargueiro da Marinha chilena estava fora de hipótese. O próximo destino turistico era Torres del Paine, no chile e, a meu ver, a melhor maneira era seguir num autocarro para a cidade que serve de suporte ao dito parque: Puerto Natales.

Se bem pensei, pior fiz. Ignorando os avisos, deixei para a última a compra do bilhete. Meus amigos... chegar a Ushuaia é fácil. Sair... é outra conversa. Nada de bilhetes de autocarro. A única hipótese é depois de amanhã seguir para Punta Arenas e daí para Puerto Natales. Tendo em conta as distâncias, provavelmente terei de dormir em Punta Arenas uma noite. Menos mal... ao menos tenho companhia. A Corinna segue para lá também. Na verdade, ficar mais um dia em Ushuaia não era um sacrifício por aí além...

Tratadas as questões burocráticas, engolido à pressa um almoço e sacadas algumas fotos parvas na cidade, decidimos voltar ao Parque Nacional da Tierra del Fuego. Tinham-nos aconselhado fazer os outros caminhos, mais pequenos que o outro que tinhamos feito ontem. Além de que ver o fim da Panamericana é sempre um chamariz interessante. Quanto mais não seja para dizer que estive lá. Nesta altura o grupo era: Eu, Corinna, Rosa e uma nova aquisição, a Sabrina, argentina porteña que conhecemos na noite anterior, ou nessa manhã, já não sei bem.

Fotos parvas na cidade.

Negociado um preço com um amigo taxista lá nos fizemos ao caminho. Pelo meio foi fazendo o papel de guia. Parecia um pouco ofendido de cada vez que tentávamos confirmar alguma coisa que tinhamos ouvido sobre Ushuaia e dizia sempre que não a tudo. Contava 1001 histórias. Desconfio que nem metade eram verdadeiras mas também não importa para nada. Chegados ao local, foi hora de nos fazermos ao caminho. Tinhamos de ter cuidado com o tempo porque tinha ficado combinado que o nosso motorista improvisado estaria no parque de campismo à nossa espera às 18h para o regresso. Com 15 minutos de tolerância.

E assim estavamos de volta ao ambiente de fadas do Parque Nacional da Tierra del Fuego. Vegetação rasteira e alta, verde amarela e vermelha principalmente. Coelhos por todos os lados. E os lagos iam aparecendo como enormes espelhos deixados ali ao acaso.


O chão estava cheio de umas bolinhas pretas fruto da digestão bem sucedida das ervas por parte dos coelhos. Para bom entendedor... Esta espécie de alcatifa preta lembrou-me a história de um primo meu que coleccionava nos bolsos azeitonas enquanto passeava num monte perto de casa dos meus avós. Umas azeitonas estranhas, sem caroço, não muito duras e que curiosamente não caiam das Oliveiras mas sim das cabras. Felizmente nunca lhe deu para provar. Acho eu. As tantas provou e nunca disse a ninguém. Mas pensando bem... quem é que diria?

E é no caminho que damos de cara com dois amigáveis italianos de Bologna que já haviamos conhecido no hostel. O Luca e o... qualquer coisa que agora não me lembro. Ainda fizeram connosco boa parte do caminho, por vezes no meio do mato, outras vezes na estrada de terra batida (a tal Panamericana, aqui chamada Ruta 3 – já explico), as vezes mais perdidos e outras vezes menos.


Pelo meio chegámos ao mirador da Bahia Lapataia. Uma vista de cima sobre a enorme baía, rodeada de árvores e travada por uma montanha nevada cujos cumes se fundem no branco das nuvens. Um silêncio imponente que nos faz quase sussurrar quando falamos. Gostava de ter estado ali sozinho. Com o meu mp3 ou simplesmente um livro. Ou então estar apenas.




A primeira parte da caminhada termina então no final da famosa ruta. Passo a explicar. Na argentina há duas estradas particularmente conhecidas. Uma só da Argentina, a outra muito internacional. A primeira é a Ruta 40, uma estrada que cruza toda a Argentina desde o Norte em La Quiaca até ao sul em Rio Gallegos. A outra, a tal que é internacional, começa (ou acaba, como quiserem) em Ushuaia, passa por Buenos Aires, cruza a Argentina em direcção ao Chile e sobe até... ao Alaska. Pois... está praticamente completa, faltando apenas um pouco na Colômbia. Consta que é uma estrada que vem já dos tempos em que os continentes americano e asiático estavam juntos. E diz-se que seguia pela Sibéria. Ora eu nesta não acredito muito... mas enfim... Ora oficialmente a Panamericana termina em Buenos Aires. Mas aí segue uma outra estrada que será a sua continuação. A Ruta 3. Basicamente, quer isto dizer que é possível seguir do Alaska até Ushuaia sem sair da mesma estrada. A não ser naquele tal lugar de que já falei. São nada mais nada menos que 17.848 kilómetros meus amigos. Coisa pouca, portanto. E não deve ser nada interessante conhecer esta estrada de ponta a ponta.


Quando as fotos começam a ser muitas saem ideias como:
Vamos ver quem faz a pose mais estúpida. Acho que ganhei.
O lugar é o fim da Panamericana com a Bahia Lapataia por trás.


Para o fim estava reservado um fenómeno no mínimo interessante. Foi na Lagoa Negra que o conhecemos mas parece que está a a acontecer um pouco por toda a Tierra del Fuego. Passo a explicar: No fundo dos lagos e lagoas estão a acumular-se todo o tipo de elementos orgânicos (paus e folhas que caem das árvores por exemplo). Até aqui nada de fantástico. Parece que acontece em todo o lado. Mas calma meus amigos que o interessante ainda está para vir. Parece que devido às baixas temperaturas, à acidez da água e ao pouco oxigénio da zona, ao contrário do que é normal, estes elementos não sofrem daquela coisa chata (e que até nós, eventualmente um dia sofremos) que é a decomposição. Como tal, vão-se acumulando no fundo até chegarem à superficie. Como se não bastasse, diz que há alguns desses elementos que têm elevada capacidade de absorção de água. O resultado final é, nada mais nada menos que um enorme colchão orgânico. Mais mole numas zonas e mais duro noutras é tão interessante e bonito como perigoso. É que há zonas onde a coisa não está tão sólida e passar em cima dela pode significar mergulhar naquilo até 7 metros de profundidade. É coisa para ser um bocadinho desagradável. Que o diga a Mexicana que ontem a fazer uma corrida se enterrou numa até aos joelhos. Parece que aquilo é tipo areia movediça. Quanto mais uma pessoa tenta sair mais se enterra. Teve de ser puxada de lá para fora e com a agravante de que os ténis ficaram lá em baixo. E eu não estava presente!! Ainda hoje penso que o meu blog poderia ter ganho projecção mundial com uma ou duas fotos da cena!!
Mas dizia eu, parece que este fenómeno se está a estender por toda a Tierra del Fuego e dizem alguns especialistas pessimistas que eventualmente um dia tudo aquilo que hoje é lago poderá vir a ser um Turbal. Turbal é o nome deste manto que se forma. Pelo menos na Argentina.

Os Turbais começam por ser isto debaixo de água.

Até que começam a aparecer à cá em cima.

E ganham este aspecto.

E tornam-se mais sólidas sendo até possível andar em cima delas.
Olhem para a minha cara de convencido disso, com a passadeira bem ali pertinho por via das dúvidas.

E foi então que tivemos a brilhante ideia de olhar para o relógio. Caros amigos... faltavam 30 minutos para a hora marcada com o taxista e restava-nos uma caminhada (olhando a coisa de forma optimista) de 1 hora. Solução? Boleia!! Três alemães e um boliviano, aparecidos do nada num Land Rover. Salta para a mala tipo cão e toca a andar.

A noite, como de costume é para divertir. Entre o hostel e um bar, entre resumir o dia e rir-me com o americano que bebeu demais e entrou em 3 casas de banho antes de descobrir o quarto e que, não contente com isso, decidiu rolar na cama que, só por azar, era o beliche de cima. Coisa pra doer. É americano, não faz mal. Alguém tem de pagar pelo que o Bush anda a fazer estes anos todos...

No mp3: Roads - Portishead