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O Império Contra-ataca. Primeiro o fim do mundo figurativo. Agora o fim do mundo literal. Não bem. Mas quase. Só um bocadinho mais a Norte.

Thursday, October 26, 2006

Olhar para um espelho para ver para trás sem ter de me virar. Juro que não é por preguiça! É para não perder a vista à frente.

Chegou a hora do referido balanço da experiência. Vai ser um post curto e sério, por isso, aconselho a clicarem na cruzinha lá de cima do lado direito e voltarem dentro de mais uns dias.

Antes que comecem os boatos como "Ena pá o rapaz até tem jeito para a fotografia" devo dizer que a foto é real mas o arrastamento é montagem. E nota-se bem. Photoshopada e da rafeira. Mas vendo bem este miserável blog não merece melhor.

27 de Julho de 2006. Aterro em Argel, por volta das 13h. Começou a aventura. Chegava com alguns receios e bastantes ilusões sobre o que estaria à minha espera. Tinha na ideia uma Argélia difícil, sem dúvida, mas engraçada, interessante e desafiante. A ideia desvanesceu-se rapidamente como foram percebendo. As coisas más para dizer iam-se acumulando sucessivamente e as boas eram raras. A ida a Tipaza não foi de certeza a melhor maneira de começar. Ou então até foi. Fosse por onde fosse dei de caras à primeira com os piores aspectos de Argel: O Vazio, a Insegurança (aqui simbolizada pela figura dos polícias armados de Kalashikov), a Sujidade e o Caos, os Ótarios e a Sociedade Obsoleta.O V.I.S.C.O.S.O., portanto. Sei que ao final desse primeiro dia, quando me deitei na cama a primeira coisa em que pensei foi “Onde é que eu vim parar?”. Logo surgiu a frase: “Oh meu Deus, vim parar ao fim do mundo!”. Daí o nome do blog.
Mas quem me conhece sabe que, acho eu, não sou de me deixar derrotar à primeira. À segunda talvez e à terceira de certeza. Mas à primeira acho que não. A menos que fosse contra o meu irmão. Quando eramos pequenos ele fazia a sua pausa nos estudos para treinar boxe e gastar as suas energias em mim. Ora a minha táctica aqui era estar derrotado à partida. O resultado é que a porta do quarto dele abria e eu já estava no chão do outro lado da casa a espernear e a chorar. Perdendo acabava por ganhar. Pelo menos ele desistia. Já não dava forra. Bem.... talvez também uma francesinha também me derrote à primeira. Se estou num dia em que não me apetece sair de casa, não saio mesmo. A menos que o tema seja francesinha. Aí derreto-me à primeira e lá vou eu. E estava aqui a pensar também que os meus tios, primos, tias, primas, irmão, irmã, pai, mãe, amigos, amigas, namorada, (aqui não há masculino), conhecidos, conhecidas, desconhecidos e desconhecidas me derrotam à primeira numa corrida de Karts. A culpa não é minha. Dão-me sempre o pior Kart. Aliás... dão-me um corta-relvas tal é a tendência que o veículo tem para ir para fora da pista. Não sou eu! Ele é que tem vontade própria.
Portanto, dizia eu, tirando nos descansos de estudo do meu irmão quando eramos crianças, tirando se o assunto for francesinha e esquecendo a hipótese de se tratar de uma corrida de karts, acho que não sou pessoa de desistir à primeira.
Decidi uma nova abordagem. Esqueci a casa com puffs, as chichas todas as noites, os cafés com dança do ventre e decidi encarar a desgraça com sentido de humor. E aí nasce o blog. A história, penso que a maioria de vocês foi acompanhando. Havia dias em que esta estratégia resultava e outros em que não. Mas lá ia fazendo a minha vida e o meu trabalho. O problema é que esta estratégia é um bocado como deixar de fumar. Estamos cheios de vontade ao início e resulta. Mas o entusiasmo vai-se perdendo e a coisa torna-se cada vez mais difícil. Ao fim de um tempo, e juntando já a vida complicada que tinhamos e mais algumas confusões que teimavam em acontecer todos os dias e em vir escarrapachadas nos jornais, o entusiasmo deu lugar ao desânimo e o desânimo trouxe a desmotivação. Ao fim de um mês e qualquer coisa já só pensava que nunca iria aguentar seis meses ali. Felizmente as coisas resolveram-se e acabei por conseguir mudar de país. Ainda por cima para a Argentina, onde tenho a certeza que me vou integrar bem a todos os níveis.
Posto isto, resta fazer um balanço. Acaba por ser aquilo que já disse antes. Tendo sido o tempo que foi, considero que valeu a pena. Aprendi coisas na Argélia. Se calhar pessoalmente aprendi mais ali que noutro sitio qualquer. Aprendi a ter capacidade de sofrimento e a viver com pouco. Re-aprendi francês e pude perceber melhor a maneira de pensar dos muçulmanos ditos normais e dos ditos extremistas. Mas acho que as coisas mais importantes que aprendi não tenho noção delas agora. Talvez daqui a uns tempos, quando a poeira assentar e as informações que trago de lá sedimentarem possa ver o efeito da Argélia em mim. O que posso dizer é que, repito, tendo saído agora, a experiência na Argélia valeu a pena. E muito. O problema é que estavamos a chegar a um ponto de estagnação. Sentia que o que o país tinha para me dar já me tinha dado. Senti que para a frente daquilo seria mais do mesmo. E isso é que não podia ser. Voltarei à Argélia certamente. Mas daqui a um bom par de dezenas de anos para poder ver as mudanças de um país que está a crescer muito rápidamente (dinheiro há e vontade também agora é só ver como eles fazem as coisas). E para poder conhecer o resto do país que me esteve vedado também. E para ir ao deserto. Sim porque deserto a sério não é na Tunisia ou em Marrocos. É na Argélia meus amigos.

Além de todo o conhecimento e vivências que trago comigo de Argel, trago também coisas más e más experiências. Mas provavelmente, serão essas que mais me ensinarão ao longo da vida. Mas acima de tudo trago comigo algumas pessoas que me ensinaram bastantes coisas e que guardo e levarei comigo para onde quer que vá.

Agora abrem-se as portas de uma nova aventura. Se tudo correr bem, parto do Porto dia 6 de Novembro para aterrar em Buenos Aires no dia 7, 22 horas depois (com escala em Frankfurt). É tempo de deixar o ventre e passar ao tango. É tempo de manter o francês e desenvolver o espanhol. É tempo de aprender coisas novas outra vez. E é tempo de, tal como na Argélia, dar novamente o melhor que posso e sei. Bora lá?

Ena pá! Afinal o balanço acabou por ser grandote. Mas ainda assim não teve piada. Portanto só se pode falar de meia mentira. hihi

Monday, October 16, 2006

Goodbye! Hello!





























































Sunday, October 15, 2006

Maslama Djazair! Hola Las Pampas!!!

Para quem não sabe aqui fica a notícia. Para quem já sabe fica de novo. Para quem já não quer ouvir, paciência porque eu não consigo falar de outra coisa. Há uns dias atrás recebi a seguinte notícia: "Gonçalo a EFACEC e o ICEP acordaram mudar o seu estágio de Argel para Buenos Aires. Aceita?" Bem... acho que a resposta é desnecessária :p

Ainda não estou bem em mim nem consegui ainda pensar muito sobre tudo isto. Quero fazer o meu balanço dos quase três meses em Argel mas preciso de tempo para pensar neles. Estou desde ontem em Portugal e vou passar uns dias frenéticos a tratar de tudo o que há para tratar da minha viagem para Las Pampas. Quando tiver um tempinho faço aqui o meu balanço final. Para já fica aqui uma ideia: Sendo como foi, valeu a pena. Sem dúvida. Conheci um país que nunca em condições normais conheceria, conheci toda uma nova cultura, religião e maneira de encarar a vida. Enfrentei dificuldades que com maior ou menor facilidade fui ultrapassando. E nisto aprendi bastante. E desenferrugei o francês. O saldo, devo dizer, é positivo. Porque saí a tempo. Porque até agora estive a descobrir. O problema seria depois, quando já tivesse descoberto o que podia descobrir e não evoluisse. Surge uma nova oportunidade que pretendo agarrar com unhas e dentes. Pretendo não: vou. Esperem para ver.

Bom depois explico melhor o que quero dizer e faço um balanço bem feito. Agora tenho de ir dormir porque amanha tenho de tratar de coisas para o passaporte e ir ao aeroporto buscar a minha mala que ficou em Charles de Gaulle. Acham que isto tinha corrido tudo bem não? Mesmo vindo embora, não estava a vir embora de um país qualquer. Era a Argélia que estava a ficar para trás. E isso tinha de ficar bem vincado.

Peço desculpa por só tornar público agora mas havia umas determinadas pessoas a merecer uma boa surpresa ;)

inté ;)

P.S.
- Maslama (sic) - Adeus
- Djazair - Alger

P.S.2 - Ainda que não saibas ler português aqui fica: OBRIGADO POR TUDO SOFIANE ;) Saha Khoya ;)

Friday, October 13, 2006

Mouloudia Club d'Alger Vs USMA

Há quem diga que pelo comportamento no estádio de futebol se pode ter um pouco a noção da população desse país. Eu acho que não será bem assim mas pronto. Neste caso aplica-se. Aqui há dias fui ao Estádio Olímpico 5 Julliet (o estádio nacional) ver um derby de Argel. O Mouloudia, o Benfica cá do sítio porque é o que tem mais adeptos mas não ganha nada de jeito há anos, contra o USMA, um clube de Argel com poucos adeptos mas com uma equipa forte. E cedo se percebeu que não ia ser fácil. A ida em si, não o jogo.

Começou com a ida para o estádio. Trânsito infernal, do género do que vi no dia em que cá cheguei quando fui a Tipaza, janelas abertas, cd's com as músicas do Mouloudia aos berros, bandeiras, estandartes, tambores, foguetes... enfim... tudo.
Estacionámos o carro a uns 15 minutos a pé do estádio. O Sofiane avisou-nos desde o início para estarmos sempre junto dele para não termos problemas. Escusado será dizer que só não fui para o colo dele porque, ainda que estejamos num país onde os homens se cumprimentam com 4 beijos na cara e andam de mãos dadas na rua, não me parece que ficasse muito bem.

Já tinhamos os bilhetes, por isso foi seguir directo para os portões. E ainda bem que já os tinhamos. Porque o estádio estava a rebentar pelas costuras. Tanto que nem tivemos lugar nas cadeiras e tivemos que ficar sentados nos degraus. Diria que num estádio de capacidade para 80.000 pessoas estariam lá umas 95.000. Foi o que me disseram pelo menos.

À entrada pude perceber os receios do Sofiane. É que aqui, apesar de o bilhete custar 2 euros, continua a haver muita gente que tenta entrar à socapa. Se é que correr em magote em direcção ao portão, esmagar toda a gente que estiver pelo caminho, tentar fugir às bastonadas da polícia, saltar a grade e atravessar o portão evitando o segurança se pode chamar de entrar a socapa.
Facilmente se percebe porque é que ali a polícia troca a Kalashikov por um bastão (que é mais parecido com um tronco de árvore tal é a grossura). É que como as coisas se passam, se andassem com arma de fogo o estádio ia estar vazio. E não era porque as pessoas tivessem medo e não fossem... ficavam era todas à porta. Deitadas.
Ainda tive de escapar a 2 ou 3 bastonadas da polícia, o que felizmente consegui. Até que o Sofiane conseguiu chegar à grade, explicou ao segurança que estava com 3 amigos portugueses que estavam cá de passagem e lá conseguiu fazer-nos passar por uma porta VIP improvisada.

Uma vez lá dentro começamos a subir as escadas para ficarmos na bancada mais alta. Subimos e subimos e subimos mais ainda. Não sei quem foi o arquitecto que desenhou o estádio mas não lhe devem ter pago no fim. É que o amigo esqueceu-se, sei lá, de uma divisão importante num estádio: a casa de banho. É para verem. Uns não põe nenhuma. Os outros fazem do estádio um WC gigante. E esqueceu-se de outra coisa que se não é obrigatória é pelo menos simpática: Luzes nas escadas. Ora sem casa de banho para usar, está bom de ver que o argelino vai à procura de um local escurinho para aliviar o stress antes do jogo. Daí que foi complicado subir sei lá eu quantos lances de escada (eram mesmo muitos) às escuras, a tentar escapar aos riachos que não conseguia ver lá muito bem e a tentar respirar o menos possível. Não foi agradável...

Lá nos sentámos para ver o jogo. Um ambiente incrível. Imaginem 90 mil (porque do USMA nao estavam mais de 5 mil) a cantar aos berros as músicas. Foguetes, petardos e até very-lights voaram. Uma coisa como nunca vi. Mas sempre bem dispostos e nunca violentos. Aqui o futebol é mesmo uma festa.

Ora aqui está o lado esquerdo do estádio. Os rastos de fumo lá ao fundo são foguetes e very-lights acabados de lançar.

E agora o lado direito. Aquele espacinho mínimo ao lado que fica ao lado esquerdo do ecrã e por baixo daquela tarja vermelha eram os adeptos do USMA.

Vai começar o jogo.

E começou mal para o Mouloudia.


É fácil de perceber que o precalço dos primeiros minutos já foi corrigido. Não dá para descrever a loucura.

Não dá mesmo...

Eu (com a camisola do Mouloudia) e o Emanuel na festa do golo!!!

Está feito o empate!

Uns bons minutos depois do golo a fumarada continuava. Não se via nada...

Aí está!! É o 2 a 1!!!!!! Festa redobrada desta vez! Tão redobrada que nem consegui tirar fotos. Deixei-me levar pelo entusiasmo. Falhei. Peço desculpa!

Oooops....
(Já repararam no nome dos jogadores? Fácil de decorar hã?)


Penalty para o Mouloudia! Faltam 2 minutos para o fim! É agora!!!!
Ou não... a estrela da equipa, o 10, o Hadjadj falhou...


Final do jogo. 2-2. Podia ter sido melhor. Mas como não era o Porto foi um jogo divertido, com golos e um deles muito bom. Marcado de livre a meio do meio campo a fazer lembrar o "saudoso" Zé Carlos, antigo defesa central do FCP. É triste. Podia aqui dizer que me fez lembrar o Geraldão ou o Branco. Mas não me lembro deles no Porto... Atenção ao 12 do Mouloudia! Excelente jogador! Qualquer dia está a jogar em França e a dar cabeçadas a italianos. hehe


No final do jogo tudo servia como autocarro. Este até nem foi o pior dos casos mas as outras fotos n ficaram bem por causa do movimento. Mas posso dizer que havia carrinhas de caixa aberta com 20 pessoas em cima e camionetas como esta com tipos agarrados ao tejadilho e com os pés no pára-choques. Se partir uma perna não faz mal! A pé até casa é que não vou! Boa filosofia. O irónico é que estes transportes até são mais confortáveis e seguros que a maioria dos autocarros que apanhei aqui para ir para a EFACEC.

E pronto. Lá se foi mais um serão! Devo dizer que tirando o jogo (que foi bom e divertido) foi horrível. Ser esmagado, ter de subir as escadas com um aroma nauseabundo, quase levar porrada da polícia, estar em permanente risco de ser assaltado... enfim... uma desgraça. Se calhar por isso é que foi tão giro. hehe


Wednesday, October 04, 2006

Teorias ocidentais na Argélia que não metam religião e carne de porco. (Ok. Esta mete religião. Desculpem lá tá bem?!)

Tenho um colega na EFACEC Algerie que é muçulmano extremista. Passa os dias a censurar-me por quebrar o ramadão. Não toma banho nem muda de roupa mais de uma vez por semana porque o exterior não importa. O que importa é o interior da pessoa. Até é uma coisa bonita para dizer. No caso dele, de preferência ao telefone porque, ao que consta, o cheiro ainda não se move pelos cabos telefónicos. Ele é tão extremista que os seus colegas muçulmanos extremistas dizem que ele sim é extremista. Não ouve música. Se vai num carro e está a dar música toca a pôr o seu leitor de mp3 nos ouvidos aos berros a ouvir o Corão.

Na feira estive os três dias com ele. Ora este meu amigo decidiu passar o tempo a dizer que tinha pena de mim, que eu estava perdido e não ia entrar no paraíso, que devia conhecer o Islão, que eu estava perdido e não ia entrar no paraíso, que devia acreditar no Deus dele, que eu estava perdido e não ia entrar no paraíso, que não basta acreditar num Deus porque tem de ser no dele, que eu estava perdido e não ia entrar no paraíso. Entre outras coisas disse também que eu estava perdido. E que não ia entrar no paraíso também.

A dada altura, já depois de tentar discutir a coisa com ele e chegar a um acordo (que se revelou impossível porque aqui a compreensão e o respeito são unilaterais - De mim para ele), desisti e ignorei-o. Não disse mas pensei:

"Eles acham que por serem chatos nos vão convencer? Melhor... quem é que ambiciona passar o resto da eternidade rodeado de chatos?
É mesmo como diz o outro. Se o paraíso está cheio de tipos como tu, então prefiro não ir para lá mesmo."

Tenho dito.